SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A tempestade que atingiu a região metropolitana de São Paulo no dia 22, com ventos de quase 100 km/h, não deve ser a única da primavera deste ano, que termina às 12h03 do dia 21 de dezembro. Segundo meteorologistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, é comum que haja alguns episódios de frentes frias nesta estação, e em todas elas existe a possibilidade de novos temporais.
O que todos afirmam, porém, é que não é possível prever com muita antecedência quando haverá novos vendavais capazes de derrubar árvores e desligar a rede elétrica ou um volume grande o suficiente de chuva para provocar enchentes e alagamentos.
Em nota à reportagem, a Defesa Civil do Estado de São Paulo informou que as análises dos seus modelos meteorológicos mais atuais indicaram duas situações em que há chance real de clima extremo na Grande São Paulo.
O primeiro é já no próximo fim de semana, o primeiro de outubro, quando uma frente fria chegará à região na sexta-feira (3) e deve provocar chuva forte, raios e rajadas de vento, com potencial para provocar alagamentos, enxurradas, quedas de árvores e outros transtornos na região metropolitana da capital.
E o segundo é na última semana do mesmo mês. “Ao longo de outubro, as temperaturas tendem a subir de forma progressiva. No entanto, na última semana do mês está prevista a entrada de uma frente fria mais intensa, que provocará queda acentuada nas temperaturas e poderá novamente gerar episódios de tempestades severas”, destaca o órgão estadual, salientando, porém, que a precisão da previsão aumentará conforme os eventos climáticos estiverem mais próximos.
Guilherme Borges, meteorologista da startup de monitoramento climático FieldPro, que já havia previsto que a primavera deve ter chuvas acima da média em São Paulo, confirma a chegada da frente fria no início de outubro, e também pede cautela ao tentar antecipar condições extremas.
“Acho que tem que ter um pezinho atrás, principalmente na questão desse tempo mais severo e intenso. Os modelos ainda colocam pouca chuva para a capital paulista, mas acredito que eles vão aumentar gradativamente. A gente tem que ter um pouquinho de pé no chão, a gente não está ainda considerando essa questão de tempestades, ainda porque está muito distante. Mas tem, sim, a chegada dessa frente fria”, diz Borges.
Além das frentes frias, que vêm da região Sul do país, outro fenômeno, conhecido como Zona de Convergência do Atlântico Sul, também pode influenciar o clima do Sudeste, por trazer umidade e chuva da amazônia. Quando esse sistema se encontra com a brisa marítima do oceano Atlântico, instabilidades são geradas e podem provocar tempestades com grande volume de precipitação.
“Este ano devemos ter esses canais de umidade entre a amazônia e o Sudeste. Eles foram raros nos últimos anos, devido às fortes ondas de calor, e a tendência é que este ano, com poucos episódios de calor, tenhamos formações entre outubro e novembro”, diz Borges.
Além disso, o choque das ilhas urbanas de calor da capital paulista com os ventos frios vindos do mar também podem provocar fortes rajadas de vento, afirma o cientista Carlos Nobre, pesquisador das mudanças climáticas mundialmente reconhecido. Ele explica que, nessas ilhas, as temperaturas podem ficar mais de 10°C acima do normal nos dias mais quentes do ano.
“Quando a brisa marítima vem do oceano Atlântico e sobe a serra do Mar, ela chega à cidade e encontra a ilha de calor. E essas temperaturas máximas fazem o ar subir muito rápido. Então, ele pega a umidade, acelera e sobe muito rápido, formando as nuvens cumulus nimbus [de tempestade]. Depois ele desce do lado da nuvem muito mais rápido. É essa a razão física da maioria das rajadas”, diz Nobre.
E, por incrível que pareça, mesmo que não ocorra nenhum desses fenômenos, ainda é possível que haja ventos fortes o suficiente para causar transtornos à cidade. Como neste sábado (27), quando está ativo um alerta amarelo, de perigo potencial, para vendaval em quase todo o estado de São Paulo, incluindo a capital. De acordo com os dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), os ventos podem variar de 40 km/h a 60 km/h até o meio do dia, com baixo risco de queda de galhos de árvores.
Assim, certeza mesmo de novas tempestades somente quando a Defesa Civil enviar o alerta via celular, como fez horas antes de o temporal chegar na última segunda-feira (22). Quando isso ocorrer, prepare-se!