BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – Incluir crianças, adolescentes e jovens no debate climático é o principal objetivo da Freezone Cultural Action, um espaço gratuito de 10 mil m² que funcionará na praça da Bandeira, em Belém, durante a realização da COP30, em novembro.
“São eles que estão chegando a este mundo já todo bagunçado pelos antecessores”, diz Giovanni Dias, presidente do Instituto Cultural Artô, idealizador e criador da Freezone.
“Então é essencial que possamos formá-los para que esse futuro seja diferente. É preciso criar novos paradigmas e que eles entendam tudo o que pode vir a acontecer dentro do contexto ambiental e climático.”
A Freezone contará com programação em diversos espaços, a maioria instalados em domos geodésicos futuristas. Estão previstas apresentações teatrais, shows, oficinas, cursos, exibição de filmes, além de um área gastronômica e um espaço para os povos da floresta.
A cenografia da Freezone remeterá aos “encantamentos da floresta, ao artesanato e às artes da amazônia”, diz o organizador.
“Haverá um contraste entre a estética do futuro, presente nas estruturas metálicas dos domos, e essa ancestralidade”, explica Fernando Goulart, diretor de comunicação do Instituto Cultural Artô e responsável pela cenografia da Freezone.
Para isso, foram recrutados nomes como Oneno Moraes, artista e designer de Belém, e a empresa Surya Design, que desenvolve projetos sustentáveis usando bambu em suas estruturas, como na cenografia do festival de música eletrônica Universo Paralello.
“Trouxemos elementos dos carros alegóricos da escola de samba Grande Rio, que foi vice-campeã este ano, homenageando a cultura paraense. Eles já se encontram na praça e serão restaurados por seus criadores, artistas de Parintins (AM)”, completa Goulart.
A abertura da Freezone será no dia 9 de novembro. A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, deve participar da cerimônia, que terá show da cantora paraense Lia Sophia e do grupo Suraras do Tapajós, considerado o primeiro de carimbó formado por mulheres indígenas.
A entrada será gratuita, com credenciamento por meio de um aplicativo, a ser lançado, que também funcionará como rede social.
O principal espaço da Freezone será a Zona Vozes, que contará com os fóruns e painéis com lideranças jovens de todo o mundo e a participação por vídeo do filósofo colombiano Bernardo Toro.
“A Freezone surge entendendo que a COP30 é um espaço, querendo ou não, muito limitado, no que tange ao acesso da população. Então a Freezone dá vazão para essa necessidade da sociedade civil de acessar os debates conectados com as temáticas ambientais”, diz a engenheira sanitarista e ambiental Karla Braga, diretora de projetos da Cojovem e jovem embaixadora da ONU, que acompanha conferências internacionais do meio ambiente desde 2017.
As comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas terão um espaço próprio dentro da Freezone, a Zona Economia Verde.
“A ideia é que possam apresentar e comercializar sua produção artístico-cultural e seus produtos artesanais, como o óleo de andiroba. Ao mesmo tempo, essas pessoas também estarão presentes nos painéis de debate”, diz Giovanni Dias, presidente do Instituto Artô.
Juliano Salgado, filho do fotógrafo Sebastião Salgado, que faleceu no último mês de maio e que seria um dos convidados da Freezone, fará a apresentação do espetáculo audiovisual “Sebastião Salgado – Uma Viagem ao Universo do Artista”, em homenagem ao pai. “São registros das suas incursões em florestas do mundo todo”, diz Dias.
Outros espetáculos que ocorrerão na praça da Bandeira são “A Árvore”, estrelado por Alessandra Negrini e dirigido por Ester Laccava, e “Contos da Floresta”, musical com reflexões sobre a relação de todos com o meio ambiente, por meio de contos dos povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas.
Haverá ainda um sarau com o escritor e poeta paraense João de Jesus Paes Loureiro.
Está prevista a projeção de mais de 40 filmes de curta, média e longa-metragem, entre ficção e documentário, de vários países.
Já a Zona TV Freezone abrigará um estúdio e fará a transmissão ao vivo de todas as atividades.
“Nem todo mundo vai conseguir vir a Belém, por várias questões de logística, então nós vamos dar a oportunidade de as pessoas acompanharem a programação, inclusive interagindo, para que consigam também dar suas opiniões”, afirma Dias.
A gastronomia paraense e amazônica estará presente em uma área no meio da Freezone, batizada de Zona dos Sabores. Serão estabelecimentos em casas de palafitas, representando a cultura ribeirinha.
A Freezone também contará com uma ação da organização EarthFlag Foundation, que realiza expedições pelo planeta, a bordo do veleiro Infinity, hasteando a bandeira da entidade para chamar a atenção para as questões climáticas e ambientais.
“O objetivo é celebrar a unidade e lembrar que não estamos separados da Terra nem uns dos outros. Respiramos o mesmo ar. Nossa comida vem do solo, e o estamos envenenando… Estamos condenando as futuras gerações. Esperamos que as pessoas despertem e possamos escolher um caminho diferente”, disse, em entrevista à Folha, o capitão da expedição, o alemão Clemens Gabriel Oestreich.
A praça da Bandeira, onde será montada a Freezone, será revitalizada, com a promessa de intervenções urbanísticas que ficarão como legado para a cidade. Devem ser entregues novo paisagismo, restauração dos monumentos e instalações de equipamentos como bancos, lixeiras, bicicletário, redes hidráulica e elétrica, iluminação e bebedouro.
O projeto de revitalização foi desenvolvido em parceria com o Exército, atual administrador da praça, após assinatura de acordo com a prefeitura em junho.