SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de pressão feita pelo governo de Donald Trump, um júri federal indiciou na noite de quinta-feira (25) o ex-diretor do FBI James Comey por acusações criminais de falso testemunho e obstrução de investigação no Congresso. Segundo críticos, a decisão é mais uma iniciativa do presidente americano para retaliar pessoas que determinaram investigações contra ele ou criticaram seus atos.

Comey, que chefiou o FBI de 2013 a 2017, foi demitido por Trump ainda no início do primeiro mandato. À época, ele chefiava investigações sobre integrantes da campanha do republicano e a suposta interferência da Rússia na campanha presidencial de 2016, em que Trump venceu Hillary Clinton.

Desde então, ele se tornou crítico do atual presidente, a quem já chamou de “moralmente inapto” para o cargo. Ainda na quinta, após a formalização do indiciamento, Comey publicou um vídeo nas redes sociais em que se diz inocente. “Meu coração está partido pelo Departamento de Justiça, mas tenho grande confiança no sistema judicial federal e sou inocente. Então, vamos a julgamento e manter a fé”, afirmou.

O caso atual contra Comey tem origem em seu depoimento de 2020 ao Comitê Judiciário do Senado, no qual ele respondeu a críticas republicanas sobre a investigação da suposta interferência russa e negou ter autorizado vazamentos de informações à imprensa. A Promotoria afirma que ele enganou o Congresso.

A acusação, contudo, é considerada mais um exemplo de uso do aparato judicial do governo para atingir um crítico de Trump, que prometeu vingança contra desafetos ainda durante a campanha de 2024.

O indiciamento foi formalizado pelo júri pouco depois de Trump cobrar publicamente mais rapidez da secretária de Justiça, Pam Bondi, em processar opositores. “A JUSTIÇA DEVE SER FEITA, AGORA”, escreveu o presidente em sua plataforma, a Truth Social, com as habituais maiúsculas.

Bondi, por sua vez, escreveu também em uma rede social que ninguém está acima da lei. “A acusação de hoje reflete o compromisso deste Departamento de Justiça em responsabilizar aqueles que abusam de posições de poder para enganar o povo americano. Acompanharemos os fatos neste caso.”

Nos bastidores, entretanto, a iniciativa enfrenta resistência. O procurador federal Erik Siebert, que chefiava o distrito da Virgínia Oriental responsável pelo caso, renunciou na semana passada após manifestar dúvidas sobre a consistência das provas.

Sua substituta, Lindsey Halligan, ex-assessora da Casa Branca e antiga advogada pessoal do presidente, assumiu o comando do processo. Outros promotores da região também manifestaram preocupação sobre a fragilidade das acusações.

Um sorteio eletrônico nesta sexta-feira (26) definiu que Comey será julgado pelo juiz federal Michael Nachmanoff, nomeado em 2021 pelo então presidente democrata, Joe Biden. O ex-diretor do FBI deverá comparecer ao tribunal em 9 de outubro, quando será formalmente acusado. Se condenado, poderá pegar até cinco anos de prisão.

Trump lamentou o sorteio. Na Truth Social, escreveu que o processo caiu nas mãos de um “juiz indicado pelo corrupto Joe Biden”, sugerindo que Comey teria vantagem. A corte não comentou as declarações.

Também nesta sexta, Trump disse esperar mais processos contra os seus antigos desafetos, embora tenha negado a existência de uma lista de inimigos internos. O Departamento de Justiça investiga outros adversários do atual presidente, incluindo a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, e John Bolton, que atuou como oficial de segurança nacional no primeiro mandato do republicano.

Republicanos há anos acusam a investigação russa de ter sido concebida para enfraquecer o primeiro governo de Trump. Em 2019, um relatório interno do Departamento de Justiça apontou falhas e erros na abertura do inquérito, mas não encontrou indícios de motivação política. O documento também criticou Comey por ter pedido a um amigo que entregasse ao jornal The New York Times memorandos que descrevem reuniões privadas com Trump —episódio que, à época, não resultou em acusação formal.

Após a saída de Comey do FBI, Robert Mueller foi nomeado para conduzir a investigação sobre a Rússia. Ele identificou interações entre a campanha de Trump e Moscou, mas não encontrou provas suficientes para caracterizar uma conspiração criminosa.

Nomeado por Trump, o atual diretor do FBI, Kash Patel, negou nesta sexta as acusações de que as denúncias contra Comey têm motivações políticas: “As acusações totalmente falsas que atacam o FBI por politizar a aplicação da lei vêm dos mesmos meios de comunicação falidos que venderam ao mundo o ‘RussiaGate’: é hipocrisia em estado puro”, escreveu no X.

Segundo críticos, o próprio Patel tem conduzido o FBI a uma instrumentalização histórica pelo governo.