SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma pesquisa publicada no periódico científico The Lancet na quarta-feira (24) aponta para um crescimento de 74% dos óbitos por câncer até 2050. As projeções indicam que cerca de 30,5 milhões de pessoas serão diagnosticadas com a doença, resultando em 18,6 milhões de mortes.

O estudo analisou a evolução da doença entre 1990 e 2023, período em que os números globais de casos de câncer tiveram um salto de 105,1% e as mortes cresceram 74,3%. Para isso, os pesquisadores analisaram registros de câncer, óbitos e autópsias no período, combinados com métodos estatísticos para identificar a carga da doença.

Os pesquisadores avaliaram 44 fatores classificados em: comportamentais, ambientais e metabólicos. Os efeitos desses fatores de risco, combinado com a mortalidade esperada e padrões históricos não explicados resultaram na projeção de 2050, que indicam também que os tumores malignos de traqueia, brônquios e pulmão, de cólon e reto, e de estômago podem ser os líderes em mortalidade.

O fator central indicado pelo estudo para o crescimento absoluto da incidência e da mortalidade é o envelhecimento e crescimento da população. As taxas de mortalidade padronizadas por idade (ajustadas para o envelhecimento populacional) diminuíram, mas não de forma suficiente para cumprir a meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030, que visa reduzir em um terço a mortalidade por doenças não transmissíveis (como o câncer) entre 2015 e 2030.

Walter da Costa, gerente médico do A.C.Camargo Cancer Center, explica que o câncer é uma doença mais prevalente no idoso e, com o aumento da expectativa de vida e a longevidade da população, essa questão fica mais evidente. Em conjunto com o aumento do acesso a diagnósticos e também uma mudança no padrão epidemiológico, que diminuiu a mortalidade por outras questões, como as doenças infecciosas.

Além do envelhecimento, algumas mudanças de hábitos como tabagismo, sedentarismo, alimentação e obesidade também têm um impacto considerável. Em 2023, a pesquisa aponta que mais 40% das mortes por câncer se devem a esses fatores de risco modificáveis.

Para isso, o médico diz que há políticas públicas capazes de reverter a previsão. “Existem algumas janelas de oportunidade, sim, que algumas iniciativas de política pública podem ajudar”, diz, como a cessação do tabagismo, redução da obesidade, orientação nutricional também no nível primário de saúde e orientar a população com relação aos riscos do uso do álcool.

A presidente da Sociedade de Oncologia (SBOC), Angélica Nogueira, complementa que várias estratégias comprovadamente reduzem o risco de câncer, com fatores modificáveis. “Por exemplo, a estratégia do papanicolau eliminou o câncer do colo do útero em alguns países de alta renda”, afirma. Além de outras tecnologias que agora são conhecidas, como o HPV DNA e a vacina. “As medidas mais baratas e eficazes para controle de mortalidade são prevenção e diagnóstico precoce.”

Outro fator apontado é a disparidade territorial e social. A carga do câncer em 2023 já demonstrou ser significativamente concentrada em nações com menor renda, sendo 65,8% das mortes por câncer em países de baixa e média-alta renda. As projeções futuras indicam que essa disparidade deve se agravar, com um crescimento muito maior da mortalidade em países com menos recursos.

“A tecnologia existe, mas não necessariamente ela existe para todos. Nos países de baixa e média renda, que agora entraram num processo de envelhecimento, esse acesso é inadequado”, diz Nogueira.

Para Costa, é importante que haja investimento de prevenção e rastreamento na saúde pública. “À medida que você previne a ocorrência do câncer ou quando ele ocorre, se faz um diagnóstico precoce, você tem uma probabilidade muito maior de ser bem-sucedido o tratamento com um custo muito mais acessível”, afirma.