SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) é hoje o maior risco de acidente com animais peçonhentos no Brasil. Ele se reproduz sem precisar de macho, vive em quase todas as regiões do país e se adapta com facilidade ao ambiente urbano.
Outras espécies também preocupam: o marrom (Tityus bahiensis), o amarelo-do-Nordeste (Tityus stigmurus) e o preto-da-Amazônia (Tityus obscurus).
O problema cresce rápido. Um estudo da Unesp, publicado na revista Frontiers of Public Health, mostra que os acidentes com escorpiões aumentaram 250% na última década e podem superar 270 mil novos casos até 2033.
Alta pode estar relacionada à urbanização, ao descarte inadequado de lixo e às mudanças climáticas. Para a pesquisadora Manuela Pucca, esses números revelam “uma silenciosa e crescente crise de saúde pública no Brasil”.
Onde eles se escondem? Segundo o Instituto Butantan, os escorpiões “preferem locais quentes e úmidos e necessitam de quatro elementos para sobreviver: alimento, água, abrigo e acesso”. O lixo e as baratas, seu principal alimento, facilitam a infestação. O Ministério da Saúde confirma que ralos, frestas, entulhos e pilhas de madeira são abrigos ideais.
“É importante fazer o controle e ter os cuidados necessários porque nós não conseguimos e nem podemos eliminar esses animais da natureza e dos meios urbanos. Os escorpiões desempenham um papel importante no equilíbrio ecológico como predadores de outros seres vivos e devem ser preservados, mas medidas preventivas devem ser tomadas para evitar a proliferação no meio urbano e os acidentes”, disse Denise Maria Candido, bióloga do Instituto Butantan, em comunicado.
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SINAIS DE PRESENÇA DE ESCORPIÕES EM CASA
Esses animais são noturnos e raramente vistos durante o dia, mas deixam pistas. A Agência de Notícias do Governo de SP explica que eles trocam de pele várias vezes até a fase adulta; as carapaças podem ficar em cantos úmidos. A Unesp detalha que uma única fêmea de Tityus serrulatus pode gerar 20 a 25 filhotes por ninhada, duas vezes ao ano. Ver um filhote é sinal de ninho ativo.
Outros indícios práticos podem ajudar nessa identificação. Aumento de baratas e insetos rasteiros, frestas e entulhos no quintal, relatos de escorpiões em imóveis vizinhos e mudança de comportamento de cães e gatos, que podem farejar onde os bichos se escondem.
COMO AFASTAR O RISCO
As orientações do Butantan e do Ministério da Saúde incluem:
manter quintais e jardins limpos, sem entulho ou folhas secas
vedar ralos, portas e rodapés
afastar camas, berços e móveis das paredes
sacudir roupas, toalhas e sapatos antes de usar
O uso de pesticidas não é indicado, pois pode apenas deslocar os escorpiões e aumentar os acidentes.
EM CASO DE PICADA
Lave o local com água e sabão e procure um atendimento médico imediatamente. O Ministério da Saúde informa que o soro antiescorpiônico, fabricado pelo Instituto Butantan e distribuído gratuitamente pelo SUS, é aplicado em casos moderados ou graves.
Somente um médico pode avaliar a necessidade do antiveneno. Se possível, leve o animal ou uma foto para ajudar na identificação. Crianças exigem atenção especial, pois reagem mais rapidamente ao veneno.
UM INIMIGO BEM ADAPTADO
Para a pesquisadora Manuela Pucca, “o escorpião-amarelo se adapta muito bem ao ambiente urbano”. Ela afirma que “qualquer lugar que ofereça espaço, alimento e água é suficiente para a reprodução”.
Com a urbanização crescente e o clima mais quente, a tendência é de expansão. Observar sinais, eliminar abrigos e buscar socorro rápido em caso de acidente são medidas essenciais para conter essa ameaça que avança silenciosamente pelas cidades brasileiras.