SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Associação dos Músicos Instrumentistas do Theatro Municipal de São Paulo, com apoio do Coro Lírico Municipal, divulgou, nesta sexta-feira (26), uma nota em que acusa o diretor de gestão da Fundação Theatro Municipal de São Paulo, Dalmo Magno Defensor, de ter capturado o chamamento público para a escolha de uma nova gestora para a sala de espetáculos.

Haveria um conflito de interesses, já que Defensor ocupou um cargo de diretoria na Sustenidos, a atual gestora do teatro, que passa agora por um processo de rescisão de seu contrato com a prefeitura da cidade. Segundo a nota, Defensor fiscaliza tanto o contrato de gestão em si quanto a licitação para a escolha de uma nova organização que vai administrar um dos principais palcos do país.

Em paralelo, o Sindicato dos Músicos Profissionais no Estado de São Paulo (Sindmussp) divulgou, também nesta sexta, uma carta em apoio aos artistas do Theatro Municipal e na qual critica a escolha de Defensor.

Procurada, a Sustenidos, que gere o complexo Fundação Theatro Municipal, afirma em nota que Defensor foi diretor administrativo e financeiro na organização social entre 2013 e 2016, e que só passou a exercer suas funções na fundação após quase uma década de sua saída da empresa. Segundo a nota, não haveria impedimentos legais para isso, “já que foi ultrapassada qualquer exigência de quarentena”.

“A sugestão de existência de conflito não passa de uma falácia criada apenas para atentar contra a boa imagem e o excelente trabalho realizada pela Sustenidos à frente do Theatro Municipal”, afirma a Sustenidos.

Na semana passada, o prefeito Ricardo Nunes pediu a rescisão do contrato da administradora com o teatro. Isto aconteceu após um funcionário da Sustenidos ter comemorado o assassinato do influenciador trumpista Charles Kirk. Nas redes sociais, Pedro Guida, diretor de elenco do Municipal, republicou um vídeo de um influenciador americano que afirmava que Kirk era nazista.

O imbróglio parece expor uma guerra ideológica que foi conflagrada, nos últimos quatro anos, num dos palcos mais importantes do país. De um lado, a Sustenidos teve sua direção artística orientada por pautas ligadas à esquerda, envolvendo a busca por mais diversidade e a desconstrução da ópera, da música clássica e da dança contemporânea.

Do outro, vereadores conservadores, aliados a Nunes, se posicionaram contra a administradora, por uma suposta doutrinação ideológica no teatro. Uma versão preliminar do edital para a escolha de uma nova gestora para o Theatro Municipal foi publicada dia 22 de setembro e está agora em consulta pública.

Nas mesmas notas divulgadas nesta sexta, os sindicatos de músicos acusam a Sustenidos de inconsistência na prestação de contas com a Prefeitura e afirmam que isso pode causar danos e sucatear os corpos artísticos da cidade -a Orquestra Sinfônica Municipal, o Quarteto de Cordas, o Coro Lírico, o Coral Paulistano e o Balé da Cidade.

Já o Sindmussp diz que os artistas não endossam a assinatura de um abaixo-assinado em defesa da atual gestora, que já soma mais de 10 mil apoios.

A Sustenidos diz que a Prefeitura realizou uma auditoria na sua gestão do Theatro Municipal e concluiu que os “recursos públicos chegaram ao seu destino corretamente” e que a administradora prestou todas as contas.

Um relatório do Tribunal de Contas do Município, divulgado no final do ano passado, apontou que a maioria das metas da gestora com a Prefeitura foi cumprida -das 179 estabelecidas no contrato de quatro anos atrás, 166 foram entregues plenamente, segundo a Sustenidos.

“O relatório não apontou nenhuma falha relevante na execução do contrato. A gestão da Sustenidos, vista no contexto, é extremamente exitosa”, afirma a gestora.