NOVA YORK, EUA E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizem que a conversa presencial entre o presidente e Donald Trump pode ocorrer em um terceiro país. Antes disso, são esperados contatos telefônicos entre os líderes.
Auxiliares de Lula ponderam que os acertos estão muito iniciais, mas há uma avaliação de que dificilmente o presidente brasileiro iria aos EUA ou Trump, ao Brasil.
Por isso, a possibilidade de um encontro físico é mais plausível num terceiro país. Lula deve ter ao menos duas viagens internacionais neste ano. Uma delas será para participar da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia, entre 26 e 28 de outubro.
Trump foi convidado ao evento. Se ele confirmar presença, a expectativa é que eles possam se encontrar.
O presidente americano também foi convidado para a cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em português) na Coreia do Sul e confirmou que irá. Lula também pode ir.
Auxiliares trabalham com o cenário de os líderes se encontrarem em uma dessas ocasiões. A preocupação entre diplomatas e integrantes do Palácio do Planalto é não expor o presidente desnecessariamente, por isso, todos os cálculos a serem feitos levarão em conta esse fator.
Apesar disso, há uma ala de conselheiros de Lula que não quer esperar até esses eventos internacionais para realizar o encontro.
Na visão desse grupo, o país não pode deixar a disposição do americano “esfriar”. Eles defendem uma conversa o quanto antes, sendo que uma das possibilidades seria uma reunião na residência de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida.
Aliados de Lula viram o gesto de Trump como uma vitória para o brasileiro, mas temem que o republicano use o diálogo entre os dois como uma forma de pressionar e até humilhar o líder petista, a exemplo do que já fez com líderes europeus na Casa Branca.
Lula e Trump tiverem um rápido encontro na manhã desta terça-feira (23) pouco antes de o republicano discursar na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. Trump sugeriu, e Lula aceitou, uma conversa para a próxima semana. O encontro foi divulgado pelo presidente americano ao final de sua fala, em que ele também disse que gostou do brasileiro e que teve uma “excelente química” com o petista.
A conversa ocorreu depois de uma série de interlocutores, tanto de dentro como de fora do governo, atuarem para distensionar o clima. Houve sinais do governo americano levado a integrantes da gestão petista diretamente ou por meio de terceiros, como empresários, de que Trump estaria aberto a uma conversa.
Por essa razão, tanto o americano como o brasileiro chegaram a Nova York cientes de que uma rápida interação poderia acontecer, bastava que os dois quisessem. Para isso, Trump teria de chegar mais cedo a uma das salas em que os presidentes aguardam para subirem ao púlpito. Lula, por sua vez, deveria sair pela mesma sala em que os chefes de Estado aguardam, como fez.
Em 11 de setembro, mesmo dia em que o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que o ex-presidente ficasse preso por 27 anos, Alckmin teve um diálogo com Jamieson Greer, chefe do USTR, o órgão responsável por comércio exterior.
Esta e outras interações foram alguns dos diálogos que o governo brasileiro teve com os americanos e que levaram Lula chegar a Nova York com a expectativa de que pudesse haver um encontro ainda que breve construtivo com Trump.
Desde julho, quando o republicano oficializou as tarifas de 50% a produtos brasileiros, empresários e integrantes do governo intensificaram a tentativa de interlocução com a gestão americana.
O ministro Mauro Vieira (Itamaraty) teve o primeiro encontro com seu homólogo, Marco Rubio, secretário do Departamento de Estado, no mesmo dia em que foram anunciadas novas sobretaxas, em 9 de julho.
A realização da reunião entre Vieira e Rubio teve ajuda da Embraer, que foi poupada da sobretaxa de 40%, mas atua junto aos americanos para eliminar a tarifa de 10% ainda vigente.
A reunião ocorreu no escritório de advocacia King & Spalding, que representa a Embraer nos EUA. O pedido para a reunião ser fora do Departamento de Estado partiu dos americanos, que queriam manter o diálogo privado e evitar interferências.
Desde aquela conversa, Vieira conversou com Rubio ao menos duas vezes por mensagem. O brasileiro disse ao homólogo que o país estava comprometido a desescalar a tensão com os EUA.
Em outra frente, empresários buscaram a Casa Branca em busca de isenções às tarifas e ajudando a pavimentar o caminho para uma conversa entre Trump e Lula.
Há cerca de 10 dias, integrantes do governo passaram a receber sinais de que o presidente americano estaria disposto a conversar com o petista. As mensagens partiram da Casa Branca, que demonstrou mais disposição do que o Departamento de Estado, que adotava uma postura mais beligerante.
Os recados chegaram por meio de terceiros e também diretamente, nos contatos entre autoridades brasileiras e americanas.
Nos EUA, a Embaixada do Brasil manteve contatos com integrantes da Agência de Segurança Nacional.
Por isso, quando a delegação brasileira chegou a Nova York, já tratava a hipótese de um encontro com uma possibilidade. Isso não significa que uma conversa tenha sido agendada.
Brasil e Estados Unidos vivem um momento tenso em suas relações. Washington, em um gesto de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, impôs tarifas comerciais às importações brasileiras e sanções a membros do Executivo e do Judiciário, como o ministro Alexandre de Moraes, do STF.