SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta sexta-feira (26), com investidores repercutindo dados de inflação dos Estados Unidos.
O índice de inflação PCE, bastante observado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) para balizar as decisões de política monetária, veio em linha com o esperado pelo mercado.
Às 11h42, a moeda recuava 0,32%, cotada a R$ 5,348, seguindo o movimento no exterior. Já a Bolsa oscilava entre sinais e marcava variação positiva de 0,01%, a 145.323 pontos.
Segundo o Departamento do Comércio dos EUA, o PCE (índice de preços de consumo pessoal, na sigla em inglês) subiu 0,3% em agosto, depois de alta de 0,2% em julho. Nos 12 meses até agosto, o indicador avançou 2,7%, depois de ter subido 2,6% em julho.
O núcleo do índice, que exclui os componentes voláteis de alimentos e energia, teve alta de 0,2% no mês passado, mesma taxa de julho. Nos 12 meses até agosto, houve alta de 2,9% no núcleo, igual a julho.
Os resultados ficaram em linha com todas as medianas das projeções de economistas ouvidos pela Reuters.
A leitura do mercado é que a convergência dos dados às expectativas indica que o “status-quo atual permanece intacto”, de acordo com Bret Kenwell, analista da eToro, permitindo que o Fed continue no caminho de cortar as taxas de juros mais duas vezes este ano.
O banco central dos EUA trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto dados de inflação e do mercado de trabalho para decidir sobre a política monetária. O PCE é a métrica favorita do Fed para acompanhar a meta de inflação de 2%, enquanto o relatório “payroll” e outros indicadores laterais fornecem mais pistas sobre o estado do mercado de trabalho.
Segundo Kenwell, a meta de inflação de 2% parece ser uma “baixa prioridade” pelo Fed no momento, com os dirigentes mais focados em restaurar o equilíbrio entre empregos e inflação.
O presidente do Fed, Jerome Powell, justificou o corte de 0,25 ponto percentual na semana passada pelo esfriamento do mercado de trabalho, embora tenha deixado claro que o banco central continua vigilante em relação à inflação.
“A inflação pode não estar revertendo, mas também não está reacelerando”, disse Ellen Zentner, da Morgan Stanley Wealth Management. “A menos que haja uma grande surpresa positiva no relatório de empregos da próxima semana, o Fed deve permanecer no caminho certo para realizar outro corte de juros no final de outubro.”
O relatório fornece algum alívio para os operadores que, após uma bateria de dados nesta semana, reverteram parte das apostas de mais cortes nos juros.
Na quinta, o Departamento do Trabalho informou que o número de norte-americanos que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego caiu em 14 mil, para 218 mil, ante expectativa de economistas consultados pela Reuters de 235 mil. Ou seja, mais trabalhadores mantiveram seus postos, contrariando as projeções.
Além disso, o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA cresceu a uma taxa anualizada revisada para cima de 3,8% no segundo trimestre. O percentual representa uma elevação ante a estimativa anterior, de 3,3%.
“O Fed tem navegado em um cenário bastante contraditório, em que existem algumas evidências de fraqueza no mercado de trabalho, o que normalmente se combate com redução da taxa de juros, mas também existem evidências de um crescimento econômico mais acelerado e de alguma pressão inflacionária, o que exige juros mais altos”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Operadores agora esperam mais um corte na reunião de outubro. Uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa concentra 88% das apostas na ferramenta Fed Watch, do CME Group, enquanto os 12% restantes acreditam em uma manutenção.
A perspectiva reinjeta ânimo e apetite por risco nos mercados. O índice DXY, que mostra o desempenho do dólar em comparação a outras seis moedas fortes, tinha queda de 0,25%, a 98,21 pontos, sugerindo busca por outras praças cambiais.
“A combinação da força contínua na atividade econômica geral e de um Federal Reserve que provavelmente continuará reduzindo as taxas de juros provavelmente fornecerá suporte contínuo para ativos de risco”, disse Greg Wilensky, da Janus Henderson Investors.
Já no Brasil, o diretor de política econômica do BC (Banco Central), Diogo Guillen, disse que a autoridade monetária vê sinais mistos em leituras sobre a atividade econômica em julho e agosto, mas que, no todo, os indicadores sugerem uma continuidade, no terceiro trimestre, da tendência de moderação do crescimento.
A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) indicou que a autarquia entrou em uma nova fase em relação à taxa Selic, que deve permanecer em 15% ao ano por período “bastante prolongado” a fim de levar a inflação à meta de 3%.
A manutenção da Selic pelo Copom e cortes na taxa pelo Fed aumentam a diferença entre os juros de lá e os daqui, e, quanto maior essa diferença, mais rentável é a estratégia conhecida como “carry trade”.
Nela, pega-se dinheiro emprestado a taxas baixas, como a dos EUA, para investir em ativos com alta rentabilidade, como a renda fixa brasileira. Assim, quanto mais atrativo o carry trade, mais dólares tendem a entrar no Brasil, o que ajuda a valorizar o real.