SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo britânico anunciou, nesta sexta-feira (26), a intenção de criar um documento de identidade digital para os cidadãos e residentes do Reino Unido. A iniciativa faz parte de mais uma tentativa do primeiro-ministro Keir Starmer de combater a imigração ilegal e de reduzir a pressão vinda do partido de ultradireita Reform UK.
O documento não terá versão física e ficará armazenado nos smartphones. Ele será obrigatório para trabalhadores do país até 2029. Ao contrário de outros países europeus, no Reino Unido não existe um documento nacional de identidade.
As pessoas geralmente se identificam com o passaporte ou carteira de motorista.
Em um discurso em um evento nesta sexta, Starmer disse que seu governo trabalhista, de centro-esquerda, havia sido “reticente” em discutir as preocupações dos eleitores sobre imigração.
Isso permitiu que o Reform UK, maior partido político anti-imigração do Reino Unido, ganhasse popularidade, disse Starmer, reconhecendo que a sigla de ultradireita liderada pelo populista Nigel Farage provavelmente será o principal adversário do Partido Trabalhista na próxima eleição, prevista para 2029.
“É por isso que hoje anuncio que este governo tornará obrigatório um novo documento de identidade digital, gratuito, como requisito para o direito ao trabalho até o fim desta legislatura”, disse ele.
O documento será implementado até 2029, quando deve haver novas eleições ao Parlamento, e será obrigatório obtê-lo, mas não será obrigatório carregá-lo a todo momento.
“Deixe eu explicar: você não poderá trabalhar no Reino Unido se não tiver uma identidade digital”, afirmou ainda. “É tão simples como isso, porque as pessoas decentes, pragmáticas e justas querem que enfrentemos os problemas que veem ao seu redor”, acrescentou.
A introdução da identidade é um tema de debate há muitos anos e envolve um ponto sensível: a privacidade dos dados pessoais. O governo trabalhista de Tony Blair tentou criar um documento de identidade no começo dos anos 2000. A lei foi aprovada em 2006, mas o governo conservador de David Cameron a revogou em 2011.
“Esta medida impedirá que aqueles que não têm direito de estar aqui possam encontrar trabalho, e limitará suas perspectivas de ganhar dinheiro, que é um dos fatores que atraem pessoas a viajar para o Reino Unido ilegalmente”, afirmou o comunicado do governo.
OPOSIÇÃO DOS CONSERVADORES
Desde que assumiu o poder, em julho do ano passado, Starmer promoveu diversas medidas para combater a imigração ilegal, com ações concentradas no combate ao trabalho irregular.
As detenções em casos de trabalho irregular aumentaram 50%, e foram adotadas medidas para que as plataformas de entrega de comida a domicílio reforcem os controles de identidade de seus funcionários.
A França critica a facilidade com que as pessoas que chegam clandestinamente ao Reino Unido conseguem trabalhar, o que, segundo Paris, é um dos motores da imigração irregular através do Canal da Mancha.
O plano, insistiu Londres em seu comunicado, ajudará a “combater as redes criminosas que prometem acesso ao mercado de trabalho britânico”.
Segundo dados oficiais do ano de 2023, 8,8% da população adulta do Reino Unido atua na economia informal.
Um total de 57% dos britânicos apoia a implementação de um documento de identidade, segundo uma pesquisa realizada em julho pelo instituto Ipsos. Mas o apoio cai para 38% para um documento digital, por temores relacionados à segurança dos dados.
A líder da oposição conservadora, Kemi Badenoch, afirmou nesta sexta que seu partido se posicionará contra “qualquer iniciativa do governo para impor a obrigatoriedade da apresentação de documentos de identidade a cidadãos cumpridores da lei”.
“Não vejo nenhum benefício para o governo em ter uma identidade digital, além de controlar o que fazemos, o que gastamos e para onde vamos”, disse o ultradireitista Nigel Farage. O governo diz que o documento terá tecnologia criptografada para garantir a segurança dos dados pessoais.