SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Operação Spare, deflagrada pela Receita Federal nesta quinta-feira (25), traz uma lista de motéis que seriam usados pelo PCC para lavar dinheiro. Segundo a Receita, a maioria dos estabelecimentos estava em nome de “laranjas”, com movimentação de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024.

De acordo com a operação, a atuação do PCC não se restringia ao setor de combustíveis. Por meio de pessoas relacionadas, o principal alvo também operava quase cem estabelecimentos de franquia, mais de 60 motéis e até empreendimentos imobiliários.

Uma parte desses motéis foi identificada pelo Ministério Público, com endereços na capital paulista, na Grande São Paulo e na Baixada Santista.

VEJA OS NOMES DOS MOTÉIS APONTADOS PELA RECEITA

1 – Maramores Empreendimentos Hoteleiros (Ribeirão Pires)

2 – Motel Uma Noite em Paris (Itaquaquecetuba)

3 – Motel Chamour (Parque do Carmo, zona leste de São Paulo)

4 – Motel Casual (Santo André)

5 – Sunny Empreendimentos Hoteleiros (Santo André)

6 – Mille Motel ( Jardim São Paulo, zona leste da capital paulista)

7 – Marine Empreendimentos Hoteleiros (São Bernardo do Campo)

8 – Ceesar Park Empreendimentos Hoteleiros (Vila Alpina, zona leste de São Paulo)

9 – Motel Vison (Guarulhos)

10 – Sodoma Motel (Itaquera)

11 – RCS Empreendimentos Hoteleiros (Santos)

12 – São Vicente Empreendimentos Hoteleiros (São Vicente)

Procurados, os administradores dos motéis não foram localizados.

O empresário Flávio Silvério Siqueira, apontado como operador do PCC (Primeiro Comando da Capital), alvo de busca e apreensão nesta quinta é considerado o principal operador da lavagem de dinheiro do esquema. As investigações apontam que os motéis estariam em nomes de laranjas, mas seriam do empresário.

A defesa de Flávio Silvério disse que é absurda a acusação de envolvimento dele com o crime organizado ou a prática de atos ilícitos. Segundo o advogado Marco Antônio Gonçalves, o empresário deixou o ramo dos combustíveis há mais de 15 anos e migrou para o setor de motéis, porém as investigações não apontam a prática de crime por Silvério.

Restaurantes localizados nos motéis, com CNPJs próprios, também integravam o esquema — um deles distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros após registrar receita de R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023, de acordo com a investigação.

A operação apreendeu quase R$ 1 milhão em dinheiro em espécie, uma arma, 20 celulares e computadores nesta quinta-feira (25).

A Receita afirma que, com os recursos obtidos por meio do esquema, os investigados adquiriram imóveis e bens de alto valor, entre eles um iate, helicópteros, um Lamborghini Urus e terrenos onde estão localizados os motéis, avaliados em mais de R$ 20 milhões.

Segundo os investigadores, os bens de luxo representam apenas a ponta do iceberg de um patrimônio bilionário. O iate, por exemplo, foi inicialmente comprado em nome de um motel do grupo e depois transferido para uma empresa de fachada, que também adquiriu um helicóptero.

Outro helicóptero, modelo Augusta A109E, está registrado em nome de um dos investigados. Entre os carros, o Lamborghini Urus, avaliado em cerca de R$ 3 milhões, foi adquirido por meio de uma empresa patrimonial, segundo a operação.

A PGE (Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo) aplicou medidas cautelares fiscais, com o bloqueio de R$ 7,6 bilhões em bens contra 55 investigados.

Segundo o procurador-geral adjunto do estado, Caio Guzzardi, o bloqueio já alcançou diversos bens, incluindo centenas de veículos, fundos de investimento, dinheiro em conta-corrente e ações de empresas. As medidas, afirma, visam garantir a devolução desses valores aos cofres estaduais, permitindo que o dinheiro recuperado do crime seja destinado a políticas públicas.

De acordo com a investigação do MP-SP, as apreensões e os bloqueios são parte de um esforço mais amplo para desmantelar a estrutura financeira do crime organizado, que movimentou mais de R$ 4,5 bilhões em transações financeiras ao longo de cinco anos com arrecadação tributária baixíssima (0,1%).

O principal alvo da operação está ligado a uma extensa rede de postos de combustíveis (cerca de 400) usada para lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Também foram identificadas administradoras de postos que movimentaram R$ 540 milhões no mesmo período.