SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A delegação do Brasil e diversas outras delegações de países deixaram o plenário da Assembleia-Geral das Nações Unidas antes da fala do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, nesta sexta-feira (26).
O premiê também foi aplaudido por parte dos presentes, enquanto o presidente da sessão pedia ordem. Ao longo da sua fala, recheada de críticas a líderes ocidentais que têm criticado Israel e reconhecido o Estado da Palestina, era possível ouvir alguns protestos.
Netanyahu deu duras declarações sobre o reconhecimento do Estado palestino, que ganhou tração durante a Assembleia-Geral com o anúncio de que França e outros países passaram a reconhecer a Palestina.
“Dar um Estado aos palestinos a uma milha de Jerusalém depois do & de Outubro é como dar um Estado para a Al Qaeda a uma milha de Nova York depois do 11 de Setembro. Isso é loucura, é insano, e nós não vamos fazer isso”, afirmou Netanyahu.
“Aqui vai outro recado para esses líderes ocidentais [que reconheceram a Palestina]: Israel não vai permitir que vocês nos empurrem um Estado terrorista garganta abaixo. Não vamos cometer suicídio nacional, porque vocês não têm coragem de enfrentar uma mídia hostil e multidões antissemitas que exigem bloqueio de Israel”, disse o premiê.
A fala de Netanyahu se dá em um momento diplomático adverso para Tel Aviv. Além da pressão internacional crescente pelo fim da guerra em Gaza por parte de países críticos à ofensiva israelense, o premiê viu na véspera seu principal aliado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar que não dará seu aval à anexação da Cisjordânia, hoje um território ocupado por forças israelenses. “Já chega, agora é hora de parar”, declarou o americano no Salão Oval da Casa Branca.
Durante sua fala, Netanyahu também voltou a mostrar mapas do Oriente Médio, como fez em outras oportunidades na ONU, mostrando o que chama de “maldição” o Irã e países em que existem grupos aliados e financiados por Teerã. Ele também mostrou cartões com um quiz mostrando os inimigos de Tel Aviv.
O premiê afirmou ainda que vai “caçar” o Hamas se o grupo terrorista não libertar todos os reféns em Gaza. “Abaixem suas armas, deixem meu povo ir. Libertem os reféns, todos eles, agora. Se o fizerem, vão viver. Se não, Israel vai caçar vocês”, afirmou Netanyahu.
Netanyahu subiu ao púlpito das Nações Unidas com um grande broche contendo um QR code que, ao ser escaneado, leva a um vídeo com imagens do ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023.
Vários países formalizaram nos últimos dias o reconhecimento do Estado Palestino, um movimento internacional coordenado que tenta pressionar Israel e que foi iniciado em julho, quando o presidente francês, Emmanuel Macron, deu início à mobilização.
Além da França, Canadá e Reino Unido foram outros países do G7, grupo que reúne algumas das maiores economias do mundo, a anunciar o reconhecimento. Na segunda-feira (22), líderes participaram de uma conferência dedicada à solução de dois Estados à margem da Assembleia-Geral. O encontro foi boicotado por Israel e EUA.
Na quinta-feira (25), o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, fez seu discurso na Assembleia-Geral por vídeo os EUA lhe negaram visto para ir a Nova York. Ele criticou a visão de um “Grande Israel”, conceito de expansão da nação sobre Cisjordânia, Gaza e partes de países vizinhos como Egito e Líbano defendido por Netanyahu.
A Cisjordânia é administrada oficialmente pela ANP, mas sob ocupação militarmente por Israel, que é quem exerce, na prática, o controle territorial e o papel de polícia.
Abbas ainda fez declarações duras contra os ataques de Israel em Gaza e disse que o conflito entrará para os livros de história como um dos capítulos mais horríveis dos séculos 20 e 21. “O povo palestino em Gaza encara uma guerra de genocídio, destruição, fome e deslocamento travada pelas forças de ocupação israelenses”, afirmou ele, por videoconferência.
Desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, as forças de Tel Aviv cercaram Gaza e seus mais de 2 milhões de habitantes, que estão ameaçados por uma “fome generalizada”, segundo as Nações Unidas. A ofensiva israelense já matou mais de 65 mil pessoas, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território palestino, controlado pelo grupo terrorista.
Os dados são considerados confiáveis pela ONU e não podem ser checados de forma independente devido ao bloqueio de Israel à entrada da imprensa internacional em Gaza.
Há quase dois anos, em 7 de outubro de 2023, o Hamas fez um mega-ataque contra o sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 251 reféns, o que deu início ao conflito ainda em curso.