SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os sintomas de depressão pós-parto, caracterizado pela tristeza e desesperança no puerpério, são comuns e conhecidos. No entanto, um outro diagnóstico tem sido mais reconhecido: a ansiedade pós-parto. Apesar de poderem coexistir e se sobrepor, ambos apresentam características diferentes e devem ser olhados com cautela no acompanhamento materno.

Natalie Feldman, psiquiatra e professora no Hospital da Mulher Brigham da Faculdade de Medicina de Harvard, autora do artigo “Ansiedade pós-parto: uma revisão do estado da arte”, publicado no periódico The Lancet Psychiatry, explica que os principais sintomas da condição, ao contrário da depressão, é o medo e preocupação excessivos.

Seu estudo encontrou uma prevalência global de 12,3% de ansiedade pós-parto. “É incrivelmente importante que estejamos falando sobre depressão pós-parto. Mas se não falarmos sobre ansiedade pós-parto também, corremos o risco de fazer essas mães sentirem que suas experiências não importam”, diz, complementando que há momentos que poderíamos falar de transtornos de humor no pós-parto como um todo.

A ansiedade é um sintoma que pode estar presente de maneira saudável, e é possível identificar quando ela deixa de ser a partir do impacto que ela tem no seu dia a dia e o quão grave é, afirma a especialista.

A psicóloga Cláudia Melo diz que é importante observar algumas mudanças de comportamento que fogem do esperado, como preocupações constantes e invasivas em relação ao bebê, dificuldade de relaxar, irritabilidade, insegurança intensa, sensação de incapacidade, alterações no sono e no apetite, isolamento ou afastamento das pessoas e crises de choro sem causa aparente.

Ela diz que, apesar de esse não ser um diagnóstico novo, tem observado um aumento no número de casos na clínica. “Diversos fatores sociais podem contribuir para esse aumento, como cobranças intensas de desempenho e perfeição na maternidade, excesso de informações e comparações nas redes, a falta de uma rede de apoio e transformações no mundo do trabalho.”

Para que seja possível identificar a ansiedade pós-parto, o acompanhamento pré-natal, feito por uma obstetra, em conjunto com um atendimento multiprofissional pode ser fundamental, dizem as especialistas, principalmente para identificar fatores de risco.

Feldman diz que, na prevalência da condição, foi encontrado que mães adolescentes de primeira viagem têm maior risco de desenvolver tanto ansiedade quanto depressão pós-parto. “Uma orientação sobre o tema é importante para que as mães saibam quando pedir ajuda”, afirma a psiquiatra. “Também pode ser uma forma de prevenção da ansiedade pós-parto.”

Silvia Regina Piza, ginecologista assistente da diretoria científica para região sudeste da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) lembra que a ansiedade pode permear todo o processo de gravidez, principalmente o sentimento de insegurança diante de uma nova experiência.

“Quando existe um apoio emocional, esse sentimento é equilibrado”, diz. “Mas existem fatores de risco que a gente deve observar durante o acompanhamento pré-natal, que é a falta de apoio familiar, a gestação não desejada ou não programada, episódios acentuados de mania e uma grande ansiedade em relação ao que vai acontecer além dessa situação normal”.

Além do pré-natal obstétrico, um acompanhamento multiprofissional pode envolver psicólogos, pediatras, enfermeiros e psiquiatras. “Cada profissional percebe sinais diferentes e complementares”, afirma Melo. O estudo de Feldman também não identificou medicamentos específicos para a ansiedade pós-parto por hora, mas atesta os benefícios da terapia para o alívio dos sintomas.

O acompanhamento psicológico oferece um espaço seguro para a expressão das inseguranças e elaboração do processo subjetivo que é a maternidade, explica Melo. Ter esse suporte, além de uma rede de apoio da família e amigos, pode evitar que os sintomas evoluam para quadros mais graves.

Apesar das pesquisas ainda não conseguirem identificar com clareza o quanto esses sintomas afetam o desenvolvimento do bebê, ela lembra: “cuidar da mãe é também cuidar do bebê.”