BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Microsoft proibiu o Exército de Israel de utilizar sua plataforma de nuvem e inteligência artificial para monitorar ligações de celular de palestinos, após investigações mostrando as conexões entre o Exército israelense e a plataforma Azure da empresa de tecnologia americana.

Segundo o jornal britânico The Guardian, um email foi enviado a funcionários da Microsoft nesta quinta-feira (25), assinado por Brad Smith, presidente da empresa, afirmando que a companhia “encerrou e desabilitou uma série de serviços a uma unidade dentro do Ministério da Defesa de Israel”, o que incluiria armazenamento em nuvem e serviços de IA.

Segundo o Guardian, lia-se no email que a empresa não proporciona tecnologia que facilita a vigilância massiva de civis e que esse era um princípio da empresa aplicado em outros países.

A unidade em questão é a 8200 do Exército de Israel, semelhante em escopo de atividades à Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, famosa por escândalos de vigilância de líderes globais e cidadãos americanos na década passada.

A tecnologia usada permitia expandir a capacidade da unidade de interceptar, coletar e analisar ligações telefônicas. O Exército usava, segundo o Guardian, uma área segregada e customizada da Azure, a plataforma de nuvem da Microsoft, o que permitia retenção dos dados por mais tempo e o uso de técnicas de análise de dados aprimoradas pela IA da empresa.

O Exército de Israel não respondeu a pedidos de comentário do jornal britânico.

O Guardian, junto com veículos de mídia israelense, haviam feito uma investigação que revelou essa relação entre Microsoft e o uso pelo Exército israelense de tecnologia usada para vigiar palestinos tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza, onde o conflito de Israel com o Hamas está prestes a completar dois anos.

O projeto de cooperação teria começado em 2021, após encontro entre o comandante da unidade Yossi Sariel e o CEO da empresa, Satya Nadella. Após a revelação da cooperação, a Microsoft abriu investigação sobre o tema, o que levou ao cancelamento do acesso da unidade israelense aos serviços.

Fontes do jornal britânico disseram que o repositório de dados de chamadas interceptadas era armazenado em um data center na Holanda. Após a publicação da investigação do Guardian, Tel Aviv teria movido os dados para fora daquele data center do país e transferido o repositório para a AWS, o serviço de nuvem da Amazon —a empresa não respondeu a pedidos de comentário do jornal britânico.