SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A investigação que resultou na Operação Spare nesta quinta-feira (25) —que aponta um esquema de lavagem de dinheiro em postos de combustíveis, casas de apostais e no setor hoteleiro— encontrou indícios de que o empresário Flávio Silvério Siqueira se encontrou com integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Há registros de que os traficantes Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, e Rafael Maeda Pires, o Japa, já teriam frequentado uma casa de Silvério em Itu, no interior paulista, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de São Paulo.

A defesa de Silvério afirmou que seu cliente não tem qualquer envolvimento com o crime organizado. Também disse que ele é alvo de uma perseguição dos órgãos de investigação e que está à disposição da Justiça para todos os esclarecimentos necessários.

O advogado Marco Antonio Gonçalves lembrou que seu cliente foi vítima de extorsão de policiais civis em 2006 —o caso foi denunciado pelo Ministério Público—, e afirmou que desde então ele é alvo das mesmas acusações, das quais ele inclusive já foi absolvido no passado.

Silva foi assassinado com tiros de fuzil em frente a um hotel na zona leste de São Paulo, em fevereiro de 2018. Ele era apontado como principal liderança do tráfico de drogas no litoral paulista e teria participado, segundo o Ministério Público do Ceará, da morte de dois líderes do PCC: Gegê do Mangue e Paca, assassinados numa área de mata em Aquiraz (CE).

Japa, por sua vez, foi encontrado morto com um tiro na cabeça dentro de um carro, no estacionamento de um prédio no Tatuapé, na zona leste da capital paulista, em agosto de 2023. Ele já foi apontado como participante de um esquema de lavagem de dinheiro do PCC em empresas agenciadoras de jogadores de futebol.

Segundo a delação premiada de Antônio Vinícius Gritzbach —assassinado no aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos—, Japa participou de um tribunal do crime, no qual Gritzbach foi julgado pelo assassinato de outro líder do PCC.

Já Silvério, também conhecido como Flavinho, é apontado pela investigação do Ministério Público paulista e da Receita Federal como líder no esquema de lavagem de dinheiro que envolvia postos de combustível, empreendimentos imobiliários, motéis e lojas de franquia.

A casa frequentada por Cabelo Duro e Japa em Itu foi vendida por Silvério no ano de 2018. Esse caso seria apenas um exemplo de conexão do empresário com o PCC, segundo o MPSP.

Além disso, também de acordo com a Promotoria, o grupo ligado a Silvério seria sócio de José Carlos Gonçalves, o Alemão, que também é alvo na Justiça por suspeitas de ligação com o PCC.

Alemão foi citado na investigação da Carbono Oculto e, em setembro de 2020, preso na Operação Rei do Crime por suspeita de que lavava dinheiro para a facção criminosa. Na ocasião, a Polícia Federal apontou vínculos dele com o líder máximo da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.

Segundo a investigação à época, uma tia de Marcola foi proprietária de uma das empresas de Alemão. O MPSP aponta que ele divide a propriedade de uma aeronave e de empreendimentos imobiliários com o grupo ligado a Silvério.

A investigação que resultou na Operação Spare teve início a partir da apreensão de máquinas de cartão de crédito em duas casas de jogos de azar localizadas em Santos, no litoral paulista —uma na rua da Paz, no bairro Boqueirão, e outra na Euclides da Cunha, no Gonzaga.

Nos dois casos, os equipamentos estavam registrados em nome de postos de gasolina, o que levantou a suspeita dos investigadores. As contas bancárias inscritas nas máquinas estavam vinculadas à fintech BK Bank, apontada por investigadores como peça central na engrenagem de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis descoberta na Carbono Oculto. Deflagrada no fim de agosto, a operação mostrou a infiltração do PCC na cadeia produtiva do setor de combustíveis e do mercado financeiro.

Ao menos 267 postos ainda ativos movimentaram mais de R$ 4,5 bilhões entre 2020 e 2024, mas recolheram apenas R$ 4,5 milhões em tributos federais, segundo a Receita.

A ação desencadeada hoje, que cumpriu 25 mandados de busca e apreensão em sete municípios paulistas, é um desdobramento da Carbono Oculto.

A investigação aponta que parte do lucro da organização criminosa é proveniente de crimes de adulteração de combustíveis, com postos vinculados a Silvério.

Segundo a Receita Federal, recursos de origem ilícita eram inseridos no setor formal por meio de empresas operacionais. Esse movimento acontecia por maquininhas via fintechs, e posteriormente os recursos lavados eram reinvestidos em negócios, imóveis e outros ativos, por meio de Sociedades em Conta de Participação (SCP).

Responsável pela defesa do BK Bank, o escritório Fernando José da Costa Advogados afirmou que não foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços vinculados à instituição de pagamento.