RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em um exercício que simulou ataque hacker sobre a sonda que vai perfurar o primeiro poço em águas profundas da bacia da Foz do Amazonas, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) voltou a questionar a estrutura proposta pela Petrobras para resgate de animais.

O parecer técnico da APO (Avaliação Pré Operacional) do poço no bloco 59 da bacia, realizado no fim de agosto, conclui que a estatal não foi capaz de executar de forma satisfatória sua própria estratégia de proteção à fauna, confirmando críticas feitas pelo órgão ambiental ao longo do processo de licenciamento.

“O plano proposto não é capaz de garantir ações adequadas ao atendimento dos animais que vierem a ser contaminados em um eventual acidente com vazamento de óleo, o que poderá resultar em perda maciça de biodiversidade, levando estes animais à morte”, diz o documento.

Em nota enviada à Folha, o órgão ambiental diz que a conclusão do processo de licenciamento “dependerá da resposta do empreendedor às observações registradas pela equipe técnica do Ibama no relatório”.

A avaliação simulou ataque hacker à sonda às 18h10 do dia 24 de agosto, que afetou sistemas eletrônicos importantes da embarcação e a movimentou para fora da área de segurança, acionando sistema emergencial de desconexão do poço, provocando vazamento de petróleo.

O Ibama avaliou a resposta dentro da embarcação (retomada do controle e dos sistemas) e fora dela (recolhimento do óleo e resgate de animais atingidos).

Segundo o parecer, os avaliadores do Ibama identificaram diversas deficiências no plano de resgate da fauna. Entre elas, a dificuldade para cumprir o prazo máximo de 24 horas para o transporte de animais atingidos por óleo a centros de tratamento.

Para cumprir esse prazo, a Petrobras teve que deslocar embarcações antes da chegada de substitutas, deixando a área descoberta, sem possibilidade de resgate de novos animais. Realizou também operações de transbordo noturnas no rio Oiapoque, consideradas inseguras pelo órgão ambiental.

O parecer diz ainda que uma das embarcações não tinha pessoal nem equipamentos suficientes para o resgate. Faltavam gelo e bolsas térmicas. A equipe também não teria priorizado animais com maior chance de sobrevida, diz o texto.

“Entende-se que durante a Avaliação Pré Operacional realizada a empresa não foi capaz de executar satisfatoriamente o PPAF [Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada] proposto e que os recursos e estratégias previstos no plano não são suficientes para atender o Manual de Boas Práticas”, diz o parecer.

A estrutura de resgate a animais foi um dos principais alvos de embate entre o Ibama e a Petrobras durante o processo de licenciamento. A área técnica do órgão ambiental chegou a recomendar o arquivamento do processo, mas a proposta foi rejeitada pelo presidente Rodrigo Agostinho.

Mesmo assim, o documento considerou que a robusta estrutura disponibilizada pela Petrobras para a perfuração é suficiente e aprovou o exercício nesta quarta (24). A Petrobras se comprometeu a apresentar os ajustes solicitados até esta sexta-feira (26).

Procurada novamente nesta quinta (25), a estatal não comentou que tipo de ajustes pretende fazer para atender ao pedido do órgão ambiental.