SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diagnosticado com doença de Crohn, o jornalista Evaristo Costa tem usado suas redes sociais para falar sobre a condição. Nesta quinta-feira (25), Evaristo publicou no Instagram um vídeo no qual conta que passou a usar o cordão de girassol, símbolo global que identifica pessoas com deficiências ocultas, como TEA (transtorno do espectro autista), doenças crônicas e pacientes ostomizados.

No Brasil, a lei federal 14.624/2023 instituiu o “cordão de fita com desenhos de girassóis como símbolo nacional de identificação de pessoas com deficiências ocultas”. O uso não é obrigatório, e a garantia dos direitos desses pacientes não depende da apresentação do acessório. Em São Paulo, a lei estadual 17.897/2024, sobre o mesmo tema, determina que serviços públicos e privados treinem seus funcionários para reconhecer o cordão de girassol e oferecer atendimento adequado.

O objetivo é evitar constrangimentos e facilitar o acesso a direitos, como prioridade em filas. O documento traz informações como nome, doença e telefones de contato, além de foto do paciente.

A doença de Crohn é uma inflamação crônica que pode atingir qualquer parte do trato gastrointestinal, embora seja mais comum no íleo (parte final do intestino delgado) e no cólon. Suas causas exatas ainda não são conhecidas, mas envolvem predisposição genética, alterações do sistema imunológico, da microbiota intestinal e fatores ambientais, como hábitos alimentares.

“Se você tem ou conhece alguém que tem a doença de Crohn, com certeza você sabe quais são os sintomas. Dor abdominal, cólica, náusea, vômito, um cansaço além do comum. Mas o mais constrangedor é a diarreia, é quase involuntária. Não é ir uma vez, duas vezes ao banheiro, é ir 20, 30, 40 vezes”, disse Evaristo.

De acordo com Mathew Kazmirik, cirurgião do aparelho digestivo e coordenador do Gastro D’Or do Hospital e Maternidade Brasil, da Rede D’Or, os sintomas mais frequentes incluem cólicas abdominais, diarreia persistente, anemia, cansaço e perda de peso. O médico afirma, contudo, que a cólica é o indício mais importante, uma vez que “nem todo paciente com Crohn apresenta diarreia”, diferentemente do que ocorre na retocolite ulcerativa.

O diagnóstico é feito por gastroenterologista e pode envolver colonoscopia, endoscopia, enterografia por ressonância e exames de fezes (calprotectina, por exemplo).

O tratamento busca controlar a inflamação e oferecer qualidade de vida, com uso de corticoides em crises e, no longo prazo, imunossupressores e imunobiológicos. “Se a gente consegue tratar cedo e controlar a inflamação, o paciente pode voltar a ter uma qualidade de vida praticamente normal”, afirma Kazmirik.

Evaristo diz no vídeo que atualmente sua doença está controlada, mas que o cordão de girassol teria lhe poupado de passar por situações constrangedoras.

“Obviamente eu não preciso andar com ela [corrente de girassol] para cima e para baixo, para todos os lugares que eu vou, principalmente quando eu não estou com a doença ativa, que é o caso”, disse.

“Mas num passado muito recente, eu em crise, se eu estivesse usando o [cordão de] girassol, muito constrangimento teria sido evitado. Eu já precisei ir correndo no banheiro no avião e tinha uma fila, eu não consegui passar na frente, constrangimento enorme, não preciso dizer o que aconteceu. Eu já precisei entrar num restaurante, o segurança veio atrás e disse que eu não poderia usar o banheiro, só se eu estivesse consumindo.”

Em casos de complicações, pode ser indicada a realização de cirurgia, inclusive com ostomia temporária ou definitiva. Pacientes com Crohn também têm risco aumentado de câncer gastrointestinal, sendo indicada colonoscopia periódica após alguns anos de diagnóstico, afirma o coloproctologista Carlos Sobrado.

O jornalista conta na publicação que adquiriu o cordão pela rede Hidden Disabilities Sunflower, organização fundada em 2016 no Reino Unido e que chegou em 2023 na América Latina em 2023. O acessório também pode ser encontrado em plataformas de venda online e é disponibilizado por diversas prefeituras do país.

Para obter o cordão de girassol, geralmente é necessário apresentar documento de identidade, comprovante de endereço e laudo médico que comprove a condição.