SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A escola estadual Luis Felipe, em Sobral, no Ceará, foi alvo de um ataque a tiros na manhã desta quinta-feira (25). Há, ao menos, dois mortos, de 16 e 17 anos, e três feridos.
Entre os feridos, tem um jovem de 16 anos, que responde por atos infracionais análogos aos crimes de homicídio, porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, roubo, crime contra a administração pública e dano. Os outros dois que ficaram machucados são adolescentes de 17 anos.
O caso ocorreu no bairro Campo dos Velhos. Segundo a Santa Casa de Misericórdia de Sobral, três adolescentes baleados deram entrada no hospital e estão sendo atendidos.
O tiroteio teria começado na hora do intervalo, quando os alunos estavam no pátio. Uma câmera de segurança flagrou o momento em que dois homens estacionam uma moto na rua Coronel José Silvestre, descem do veículo e caminham em direção ao colégio. É possível ouvir barulho de tiros. Em seguida, eles sobem na moto e fogem.
A Polícia Militar afirma que já identificou os autores e que o crime teria relação com a venda de drogas na região da escola. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, uma quantidade de droga, balança de precisão e embalagens foram apreendidas com uma das vítimas.
No fim de semana e na última quarta-feira, foram registrados outros dois ataques no mesmo bairro, relacionado à guerra entre facções.
Sobral está entre as cidades mais violentas do Brasil. Segundo a última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, tem uma taxa de 59,9 homicídios por 100 mil habitantes a 12ª maior em todo o país.
Em nota, o governador Elmano de Freitas (PT) lamentou o episódio e classificou como um fato intolerável e gravíssimo. Além do reforço policial, ele afirma que determinou a ida da cúpula da SSP ao município para adoção das medidas necessárias. “Externo minha solidariedade aos familiares e amigos das vítimas desse ato tão cruel”, afirmou o governador.
Segundo a Polícia Militar, o ataque foi motivado por uma disputa territorial entre facções criminosas que atuam na cidade. Não se trata de um ataque extremista como foi registrado em outras escolas do país, como em Suzano, em 2019, ou em uma creche de Santa Catarina, em 2023.
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação do Ceará informou que não haverá aulas na escola na sexta-feira (26). Disse que tem reforçado, constantemente, ações visando a segurança do ambiente escolar, tanto em termos físicos quanto psicológicos.
“A comunidade escolar também contará com suporte dos profissionais de psicologia da coordenadoria regional no retorno às aulas, a partir de análise da escola.”
O ministro da Educação, Camilo Santana, disse que vê com “tristeza e indignação” o acontecimento. Ele disse que colocou equipes do Ministério da Educação à disposição do governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), e do prefeito de Sobral, Oscar Rodrigues (União Brasil).
“Nossas equipes especializadas em situações de crise e violência extrema já acompanham o caso de perto, por meio do Núcleo de Resposta e Reconstrução de Comunidades Escolares”, escreveu Camilo, que é do Ceará, por meio das redes sociais.
“A hora é de unir forças e trabalharmos, juntos, para preservar a escola como espaço sagrado, lugar de paz e de acolhimento. Meus sentimentos e minha solidariedade às famílias das vítimas, estudantes, professores e toda a comunidade escolar”, acrescentou.
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS
Telma Vinha, professora da Unicamp e coordenadora adjunta do Idea (Instituto de Estudos Avançados), casos de violência extrema em escolas possuem características distintas, como motivação por algum tipo de ressentimento ou por pensamentos extremistas misoginia ou sentimento de supremacia branca, por exemplo.
Além disso, os crimes costumam ser planejados. “Ele planeja por algum tempo, e o ataque, quando acontece na escola, tem um sentido de mudar a visão que as pessoas têm sobre o agressor”, diz ela. No Brasil, esses ataques são cometidos, principalmente, por estudantes e ex-estudantes. Essa é outra diferença importante entre o caso desta quinta-feira de Sobral e outros ataques registrados no país.
Vinha explica que a escola é considerada um lugar de proteção e de cuidado. “Quando isso ocorre nas escolas, há um sentimento de insegurança e ansiedade que gera nas crianças e famílias”, diz. Por isso, é importante que as aulas sejam suspensas e, em um primeiro momento, professores sejam amparados.
“Fazemos círculos de diálogo, há uma série de procedimentos, mas precisamos primeiro cuidar das pessoas que estão na escola”, afirma ela, que descreve que é necessário seguir uma série de cuidados, por exemplo, em que um funcionário da escola não deve nunca limpar o sangue de um aluno. “São alunos deles, eles estão de luto”, diz. Depois do momento do acolhimento dos funcionários é que é organizado como eles vão acolher os alunos.