SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, apresentou nesta quinta-feira (25) em São Paulo os integrantes dos 16 conselhos superiores da entidade.
Na lista estão ex-ministros do governo de Jair Bolsonaro (PL), como a senadora Tereza Cristina (PP-MS, Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o vice-chairman do Nubank Roberto Campos Neto (Banco Central), o deputado federal Mendonça Filho (União Brasil-PE, foi titular da Educação) e o senador Sérgio Moro (União Brasil-PA, Justiça e Segurança Pública). O ex-presidente Michel Temer (MDB) comandará o Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política.
Skaf assume em janeiro seu quinto mandato à frente da entidade. No dia de sua eleição, no início de agosto, o empresário já havia anunciado o diplomata Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), para o Conselho de Comércio Exterior.
Nesta quinta, Azevêdo disse a uma sala com dezenas de diretores da Fiesp que o tarifaço imposto por Donald Trump às exportações brasileiras deixou claro como o setor privado está ausente no exterior. “Não estou falando de estar ausente em países médios, estou falando dos Estados Unidos. Em um momento de crise, não temos os caminhos e os canais prontos para atuar”, afirmou.
Para Azevêdo, a negociação entre Trump e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será “diferente de tudo o que já se viu” e bastante unilateral.
A nova gestão da Fiesp só será empossada em janeiro e, por isso, a primeira reunião dos conselhos superiores foi realizada em um hotel no bairro dos Jardins, em São Paulo.
Nos anos em que esteve à frente da entidade, Skaf levou a Fiesp mais à direita, com apoio explícito ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente condenado a 27 anos de prisão pela participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A volta do empresário ao comando da entidade marca novo período de inflexão política da entidade. O atual presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, é próximo de Lula e chegou a ser convidado a assumir o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).
Nesta quinta, as críticas ao governo Lula estiveram em boa parte dos discursos, mesmo sem o presidente ter sido citado.
Campos Neto disse que o momento de grande polarização política leva à erosão das instituições e fez críticas ao que considerou ser o desequilíbrio da situação fiscal, com aumento de gastos públicos, elevação de impostos e baixa produtividade.
“Precisamos de menos estímulo de demanda. É uma solução de curto prazo tentadora, mas deixa uma conta de redução de eficiência.”
À frente do Conselho Superior da Indústria da Construção, Flávio Amary, que foi secretário de Habitação da gestão João Doria (2019), criticou o aumento de impostos e, ao citar o projeto que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda a R$ 5.000 mensais, defendeu que se tratava apenas de “correção da tabela”, mas que isso não poderia ser feito com o aumento para a outra ponta.
Na quarta, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou de maneira terminativa um projeto com texto igual ao enviado pelo governo Lula para cobrir o gasto com o aumento da isenção é criada uma alíquota mínima efetiva de 10% para quem tem renda anual acima de R$ 1,2 milhão.
Entre os discursos de seus futuros conselheiros, Skaf fez pequenos comentários. Lembrou, por exemplo, que “neste ano já tivemos aumento de impostos com o IOF” e criticou o Judiciário, que derrubou o projeto aprovado por Câmara e Senado que retirava a elevação das alíquotas. “O Congresso votou massivamente contra aumento de impostos e o Judiciário derrubou”, disse. Para ele, a decisão deixa o “equilíbrio entre os Poderes abalado.”
Quando terminar o novo mandato, Skaf terá ficado 20 anos liderando a entidade que reúne os sindicatos industriais do maior estado brasileiro, em um momento de pressão sob o setor com tarifaço para exportação e juros altos.
Para muitos, a Fiesp perdeu representação enquanto ele a comandava por ter misturado a própria imagem com a da federação, que teria virado uma plataforma para suas aspirações eleitorais. Da entrega no Congresso de um abaixo-assinado em carrinhos de supermercado contra a continuidade da CPMF ao exército de patos colocado em marcha contra a então presidente Dilma Rousseff (PT), viu-se, mais que formas de protesto, intervenções midiáticas centradas na figura de Skaf, projetando-o nacionalmente.
O ex-presidente da federação também tem aspirações eleitorais e chegou a ser candidato ao governo de São Paulo pelo MDB em 2018 e 2014. Em 2022, filiou-se ao Republicanos, mesmo partido do governador Tarcísio de Freitas.