BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Banco Central revisou para baixo a sua projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano e espera agora um avanço de 2%. A última estimativa, divulgada em junho, era de alta de 2,1%.
Para 2026, a autoridade monetária prevê expansão de 1,5% do PIB. O número é mais pessimista do que a projeção do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o desempenho da economia brasileira e também do que a expectativa do mercado financeiro.
Para o próximo ano, a SPE (Secretaria de Política Econômica) do Ministério da Fazenda projeta um avanço do PIB de 2,4%. Já o mercado financeiro estima um crescimento de 1,8%, conforme o boletim Focus divulgado na última segunda-feira (22).
As estimativas do Banco Central constam no relatório de política monetária divulgado nesta quinta-feira (25). O documento, que substituiu o antigo relatório trimestral de inflação, continua sendo publicado periodicamente.
A redução na expectativa é explicada pelo BC, em parte, pelos efeitos “ainda incertos” do aumento de tarifas imposto pelo governo de Donald Trump aos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. Uma vez que afeta o desempenho da indústria, dos investimentos e do setor externo, a guerra comercial pode reforçar a tendência de desaquecimento da economia brasileira.
Os sinais de moderação da atividade econômica no terceiro trimestre também entraram no cálculo da autoridade monetária, que ponderou que esses fatores foram parcialmente compensados por prognósticos mais favoráveis para a agropecuária e para a indústria extrativa.
“Mantém-se a expectativa de continuidade da moderação da atividade econômica ao longo do segundo semestre de 2025, tendência que deve se estender para o ano seguinte”, afirmou no relatório.
Para o próximo ano, a projeção do Banco Central considerou a “manutenção da política monetária em campo restritivo, o baixo nível de ociosidade dos fatores de produção, a perspectiva de desaceleração da economia global e a ausência do impulso agropecuário observado em 2025”.
O esfriamento da economia está associado ao ciclo da política de juros, como parte do trabalho do BC para frear a inflação. Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa básica (Selic) em 15% ao ano pela segunda vez seguida e repetiu a intenção de conservar os juros altos por tempo “bastante prolongado” para assegurar a convergência da inflação à meta.
No relatório, o BC alertou que a inflação seguirá acima do limite superior da meta nos próximos meses e depois, mesmo seguindo o movimento de queda iniciado no segundo trimestre, ainda permanece acima do alvo. Segundo as projeções do órgão, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) não atingirá o centro da meta até pelo menos o fim do primeiro trimestre de 2028.
O objetivo central perseguido pelo Banco Central é de 3%. No modelo de meta contínua, o alvo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).
De acordo com a projeção da autoridade monetária, a inflação acumulada em quatro trimestres cairá para 4,8% no fim do ano, 3,6% em 2026 e 3,1% no primeiro trimestre de 2028 (último período considerado).
A autoridade monetária apontou também no documento 71% de probabilidade de o IPCA ultrapassar o limite superior da meta neste ano, ligeiramente acima do dado apresentado no relatório anterior, quando era de 68%. Para 2026 e 2027, as chances se mantiveram em 26% e 17%, respectivamente.
Isso, contudo, não reflete mais a probabilidade de descumprimento da meta de inflação. No modelo de avaliação contínua, o BC descumprirá o objetivo caso o IPCA se situe fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos (em qualquer mês do ano).
Em junho, houve o primeiro estouro do IPCA desde que o novo formato entrou em vigor. Na justificativa enviada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, mencionou que a atividade econômica aquecida, as expectativas de inflação distantes da meta, a inércia inflacionária [herdada da inflação passada] e a depreciação cambial contribuíram para o descumprimento da meta.
Devido aos efeitos defasados da política de juros sobre a economia, o comitê tem hoje na mira a inflação do primeiro trimestre de 2027 projetada em 3,4% (acima do centro da meta).
Quanto ao crédito, o BC ressaltou que o mercado ficou mais restritivo e que a inadimplência aumentou nos últimos meses, principalmente no segmento de pessoas físicas.
Segundo a autarquia, as concessões caíram sob o impacto do aumento dos juros, de entraves no crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS e pela incerteza temporária quanto à incidência do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre operações de “risco sacado”.
No relatório, o Banco Central revisou para cima a estimativa de crescimento do crédito no país neste ano para 8,8%, ante estimativa anterior de 8,5%. A nova projeção reflete, principalmente, dados do saldo de crédito no segundo trimestre de 2025 mais fortes do que o antecipado.
“Apesar do aumento na projeção, a expansão nominal esperada ainda representa uma diminuição significativa em relação à observada em 2024, de 11,5%, em linha com o cenário de juros mais elevados e de menor crescimento da atividade econômica nesse ano do que no ano anterior”, afirmou.
De acordo com a autoridade monetária, a desaceleração do ritmo de expansão do saldo deve se manter em 2026, com projeção de crescimento de 8%.