SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar iniciou esta quinta-feira (25) com leve viés de baixa ante o real, com investidores ainda digerindo as novas projeções econômicas divulgadas pelo Banco Central mais cedo e o IPCA-15 de setembro, enquanto no exterior a moeda norte-americana oscilava próxima da estabilidade ante as divisas fortes.

Às 9h08, o dólar à vista tinha baixa de 0,12%, aos R$ 5,321 na venda.

Na quarta-feira (24), o dólar fechou em forte alta de 0,93%, a R$ 5,326, e a Bolsa teve leve ganho de 0,04%, a 146.491 pontos, renovando o recorde histórico de fechamento pelo segundo dia consecutivo.

O dia foi pautado pela política de juros dos Estados Unidos. Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), fez declarações consideradas cautelosas na terça-feira sobre o ciclo de afrouxamento monetário, sinalizando que novos cortes não estão garantidos.

Segundo ele, os diretores da autoridade monetária estão em uma sinuca de bico: ou priorizam o combate à inflação, ou protegem empregos.

Se a taxa de juros for afrouxada “de forma muito agressiva”, corre-se o risco de “deixar o trabalho da inflação inacabado e precisar reverter o curso” novamente, a fim de levá-la à meta de 2%. Por outro lado, manter as taxas restritivas por muito tempo significaria que “o mercado de trabalho poderia enfraquecer desnecessariamente”.

“Os riscos de curto prazo para a inflação estão inclinados para cima e os riscos para o emprego para baixo — uma situação desafiadora”, disse Powell em Rhode Island. “Quando nossos objetivos estão em tensão como esta, nossa estrutura nos chama para equilibrar ambos os lados de nosso mandato duplo.”

O Fed cortou na quarta-feira passada (17) os juros americanos em 0,25 ponto, para a faixa de 4% a 4,25%, em meio a sinais de fraqueza no mercado de trabalho, inflação resiliente e dados modestos envolvendo o impacto das tarifas. Foi o primeiro corte no ano, em meio à briga do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por uma política monetária menos restritiva.

O mercado, segundo a estrategista-chefe da Nomad, Paula Zogbi, estava firme na ideia de que o Fed cortaria os juros mais três vezes no curto prazo —duas esse ano e outra em 2026—, diante de indicações de que a autoridade monetária dos EUA estava mais focada em conter a desaceleração do mercado de trabalho do que em levar a inflação à meta.

“Essa leitura impulsionou muitos ativos, já que uma taxa mais baixa nos EUA desestimula que investidores tenham caixa em dólar e os leva a buscar proteção e risco em outros mercados”, afirma. A mudança no tom, explica ela, levou a um recálculo de rota, favorecendo o dólar globalmente e os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro americano, os treasuries.

“O real foi um dos mais beneficiados pela tese de cortes de juros nos EUA, porque o Brasil está bem posicionado tanto pelo diferencial de juros quanto pelos patamares da Bolsa.” Por isso a moeda enfrentou perdas fortes nesta sessão: o mercado está desmontando apostas em torno dela, considerando a postura de cautela do Fed.

Ainda que tenha acontecido na terça, o discurso de Powell seguiu ditando os mercados globais na quarta pela “falta de fatos ou indicadores novos que possam orientar as negociações”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX. “Com isso, tivemos uma extensão dos movimentos.”

No Brasil, especificamente, a política monetária dos Estados Unidos foi um tema lateral na sessão de terça-feira. O foco esteve voltado aos discursos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) e, principalmente, ao aceno ao diálogo por parte do republicano ao brasileiro.

Foi a primeira vez que ambos os líderes ficaram no mesmo ambiente desde que Trump aplicou sanções ao Brasil, em maio, e, antes de deixar o púlpito, o americano afirmou que irá se encontrar com Lula na próxima semana.

Trump afirmou que houve “excelente química” entre os dois durante o breve encontro na sede das Nações Unidas. “Eu só faço negócios com pessoas que eu gosto. E eu gostei dele, e ele de mim. Por pelo menos 30 segundos nós tivemos uma química excelente, isso é um bom sinal”, disse, após o discurso de Lula.

A possibilidade de um encontro —e, principalmente, de uma desescalada de tensões comerciais, políticas e diplomáticas— deu fôlego para as cotações, levando o dólar à mínima em mais de um ano e a Bolsa a um novo recorde de fechamento e outro durante o período de negociações, de 147.178 pontos.

“Abre-se caminho para o que não tinha acontecido até agora: Trump sentando à mesa para conversar com o Brasil. Pode ter uma flexibilidade nas tarifas de 50%, aumento da lista de isenção… Ele disse pouco, mas é uma sinalização muito valiosa”, diz Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos.

O encontro aconteceu um dia após o governo Trump ampliar as sanções a autoridades brasileiras e ao entorno do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em reação à condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão.