SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Refeições como o clássico arroz e feijão podem ser mais baratas, mas são os lanches servidos nas escolas públicas que trazem maior quantidade nutricional às crianças. É o que mostra artigo da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e da Universidade de São Paulo (USP) publicado na revista Cadernos de Saúde Pública na sexta-feira (19).

A pesquisa analisou o custo-efetividade de lanches e refeições servidos aos alunos da rede municipal de ensino fundamental na cidade de Morro da Fumaça (SC) durante um ano letivo. Segundo as pesquisadoras, os resultados podem otimizar os recursos públicos para o combate à fome e à insegurança alimentar, considerando também a obesidade.

As escolas seguem o cardápio do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Um estudo recente da Unicef sobre nutrição infantil destacou o Brasil como referência mundial pela adoção das diretrizes do programa nas escolas.

A pesquisa utilizou o Índice de Qualidade da Refeição (IQR) para classificar o cardápio servido aos alunos. O indicador permite uma avaliação da adequação de consumo de nutrientes e de determinados grupos alimentares, ingredientes e diversidade na alimentação.

A pontuação poderia variar entre 0 e 100, sendo 0 a pior alternativa e 100 a melhor. Lanches apresentaram mediana de IQR 70, enquanto a mediana das refeições ficou em 55.

“Lanches apresentaram-se significativamente mais caros, embora apresentassem também maior qualidade nutricional do que refeições dos cardápios avaliados. Já as refeições apresentaram ampla variação de custo e IQR, demonstrando que cardápios com maior qualidade nutricional também eram mais caros”, diz o resultado.

O estudo mostrou que os lanches apresentaram maior variedade nutrucional, com maior quantidade de carboidratos, gorduras, fibras alimentares, ferro, vitamina C, gorduras saturadas e açúcares de adição do que refeições.

As refeições mostraram-se significativamente mais ricas em proteínas e gorduras insaturadas do que lanches, porém apresentaram maior quantidade de sódio e colesterol na mesma comparação.

Gabriela Marques, nutricionista e autora do estudo, diz que os resultados demonstram que cada escola pode aplicar análise custo-efetividade nos cardápios e, assim, determinar as melhores opções entre as alternativas disponíveis para cada realidade e cultura.

Mas, ela diz também que não basta adotar as recomendações do Programa Nacional de Alimentação Escolar nas escolas para combater a obesidade infantil, que pela primeira vez superou a desnutrição no mundo, segundo o estudo do Unicef.

“O problema da obesidade infantil envolve muito mais o desenvolvimento de ações efetivas de educação alimentar e nutricional, para que a criança aprenda a alimentar-se de maneira adequada na escola e fora dela, e que leve esse aprendizado para toda sua vida”, completa.