SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Bruno Mazzeo escreveu e dirigiu “Chico Anysio: Um Homem à Procura de um Personagem”, minissérie em cinco episódios. Bastaria um compilado de cenas dos 209 tipos marcantes que seu pai criou na TV para impressionar quem a assistisse. Mas Mazzeo quis ir além.

“Essa figura do Chico Anysio vista por seus personagens, eu creio que as pessoas a partir de uma certa idade sabem quem é. A série quer mostrar o cara por trás disso”, explica o diretor. “Como ele chegou a esses personagens que todo mundo conhece? Como ele chegou a esses bordões que a gente repete até hoje?”

Boni, diretor todo-poderoso da Globo por décadas, diz no documentário que Anysio introduziu a humanidade no humor. Para Mazzeo, os personagens não eram caricaturas. “Quando eu era garoto, meu pai tinha o perfil dos personagens em caderninhos. Por exemplo, o Azambuja. Onde ele nasceu? Qual é o time dele? O que ele gosta de comer?”

A minissérie tem um arco narrativo do nascimento de Anysio em Maranguape, no Ceará, em 1931, até sua morte no Rio de Janeiro, em 2012, aos 80 anos. “Minha cabeça de roteirista é guiada por dramaturgia. É a primeira vez que faço um documentário”, explica Mazzeo. “Então eu olhei para ele como olharia para o protagonista de uma série de dramaturgia.”

O início fala da infância, depois chega à carreira, sua consagração, e depois a confrontação com um novo humor na TV, quando ele perde espaço para “TV Pirata” e “Casseta & Planeta”. “De repente chega o novo, o novo que ele já tinha sido. Foi muito complicado para ele lidar com isso.” E a minissérie ainda fala de seus casamentos e da relação com a Globo, que a partir da saída do Boni se torna muito difícil.

A narrativa entra em assuntos como seus muitos casamentos e a depressão. Anysio falava abertamente sobre isso, no que Mazzeo define como uma bandeira que ele sempre gostou de levantar, sobretudo no fim da vida. Ele falava em congressos de psiquiatria, queria ajudar as pessoas.

Anysio foi muito importante na transição do humor do rádio para a TV. Uma inovação tecnológica permitiu um grande salto na popularidade do humorista. No início, os programas eram gravados ao vivo, e ele já fazia sucesso. Quando chegou o videotape, que permitia a gravação prévia e a edição do material, os programas passaram a exibir trechos seguidos com Anysio interpretando vários personagens diferentes. O público enlouqueceu com sua versatilidade.

“Tem a coisa de ter sido precursor. Meu pai dizia que gênio não era o cara que construiu o Empire State, mas sim aquele que fez o primeiro sobrado. Gênio era o cara que sacou que com uma casinha em cima da outra você poderia ter duas famílias morando no mesmo endereço. A partir da ideia genial, o resto é ter dinheiro e tecnologia.”

Anysio formatou a maneira de exibir humor na TV. “O que ele inventou foi inovador e hoje já parece coisa muito antiga. Os personagens se revezando, com os tipos e os bordões repetidos semanalmente. É um formato genuinamente brasileiro, que nunca foi feito fora do Brasil e hoje faz parte da história da cultura popular.”

Mazzeo acredita ter completado, sem planejamento prévio, uma trilogia em homenagem ao pai. Primeiro, a nova e recente versão da “Escolinha do Professor Raimundo”, em que assume o papel eternizado por Anysio. Depois, a peça que está levando pelo Brasil junto com Lucio Mauro Filho. Herdeiros de uma dupla que trabalhou muito tempo junta, criaram o espetáculo com o nome bem sacado “Gostava Mais dos Pais”. E, agora, o documentário.

“Foi uma coisa boa para mim”, conta, admitindo que percebeu a formatação da trilogia refletindo em suas sessões de análise.

CHICO ANYSIO: UM HOMEM À PROCURA DE UM PERSONAGEM

– Onde Disponível no Globoplay

– Produção Brasil, 2025

– Direção Bruno Mazzeo