NOVA YORK, EUA E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (24) que a democracia “é o que está em jogo para a humanidade”. Sem mencionar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a fala foi carregada de autocrítica à esquerda e teve um tom mais brando do que sua declaração na Assembleia-Geral da ONU na véspera.

O discurso ocorreu na reunião “Democracia Sempre”, realizada às margens da Assembleia-Geral. Lula afirmou no início de sua fala que não leria o que preparou, e pediu ao presidente do Chile, Gabriel Boric, que iniciou a reunião, para interrompê-lo após os quatro minutos previstos para fala de cada um dos líderes presentes.

Lula fez ainda uma fala acenando à esquerda mundial, em particular à esquerda latino-americana, presente na mesa com Boric, o uruguaio Yamandú Orsi e o colombiano Gustavo Petro, que chegou atrasado. O espanhol Pedro Sánchez completava a mesa de organizadores.

“Onde os democratas erraram? Onde a esquerda errou? Como deixamos a extrema direita crescer? É virtude deles ou é incompetência nossa?”, questionou Lula. “Muitas vezes, a gente ganha as eleições com discurso de esquerda e atende muito mais os interesses dos nossos inimigos do que dos nossos amigos.”

Os Estados Unidos não foram convidados para o encontro, diferentemente do que ocorreu no ano passado. O Brasil, um dos organizadores do evento, avaliou não haver clima para chamar o país em razão das sanções aplicadas por Trump. A leitura foi a de que não fazia sentido convidar um país que ataca a democracia de outro.

Na sua fala nesta terça, na Assembleia-Geral, Lula havia enviado vários recados ao americano, falando em defesa da soberania e criticando agressões ao Judiciário. Trump, por sua vez, após seu próprio discurso, sinalizou que esteve brevemente com Lula entre uma fala e outra. Segundo ele, houve “excelente química” entre os dois presidentes, que combinaram uma conversa na semana que vem. Os detalhes ainda não estão claros.

Boric, presidente do Chile, elogiou o julgamento sobre a trama golpista no Brasil, que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro, e afirmou que o país deu exemplo ao mundo de defesa da democracia. “Todos que estamos aqui enfrentamos oposições duras, firmes. Mas isso tem um limite. E isso demonstrou não só o presidente Lula, mas a institucionalidade brasileira, quando disse ‘golpe de Estado não, a soberania se defende'”, disse. “Isso é algo que temos que valorizar porque é um sinal também ao mundo.”

O presidente uruguaio lembrou o ex-presidente José “Pepe” Mujica em sua fala. “Pepe dizia sempre que o que caracterizava todo o mundo ocidental era o inconformismo. Eu diria que ao inconformismo se somou o desânimo e a desesperança. Por isso, como disse Lula, nós precisamos reavaliar, ou revalorizar a bandeira da liberdade”, afirmou Orsi.

Petro usou seu tempo de fala para fazer críticas diretas a Trump. O presidente colombiano começou sua fala mencionando um livro que faz referência ao período anterior à ascensão de Adolf Hitler, na Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial para, em seguida, comparar as circunstâncias sociais da época à de hoje. “Se a sociedade norte-americana passar para o irracionalismo, como Trump disse, estamos falando do assalto à razão. E isso configura circunstâncias prévias à barbárie generalizada”, afirmou Petro.

Sánchez, da Espanha, abriu mão de dar uma declaração para abrir espaço a todos os oradores -os quatro minutos previstos de fala para cada um foi excedido por Lula, Orsi e Petro, antes que outras intervenções pudessem ser feitas.