PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O líder do regime chinês, Xi Jinping, chegou nesta terça-feira (23) à Urumqi, na região autônoma de Xinjiang, para as comemorações do 70º aniversário de fundação da região em um ato de reforço à unificação do território chinês.

Acompanhado de uma delegação de altos oficiais do regime e do Partido Comunista da China, Xi permanece em Xinjiang por dois dias, quando além de participar das celebrações, irá encontrar separadamente lideranças de todos os grupos étnicos da região, funcionários do Judiciário local, militares e policiais, segundo a mídia estatal Xinhua.

“Isso demonstra plenamente a alta consideração do Comitê Central do Partido pelo trabalho de Xinjiang e seu cuidado com os quadros e pessoas de todos os grupos étnicos da região”, escreveu a agência.

O líder foi recebido no aeroporto com tapete vermelho, flores e danças tradicionais locais. Na sua passagem pelas ruas da cidade, acenou ao público, que o aguardava nas calçadas balançando bandeiras da China, de acordo com a Xinhua.

A região é vista como ponto estratégico por Pequim, que vê risco de separatismo étnico, uma vez que Xinjiang é o lar de minorias étnicas chinesas, principalmente os uigures, que são de maioria islâmica e cultura diferente da maioria do país, da etnia han. Tem também valor estratégico para economia e defesa do país, uma vez que faz fronteira com seis nações estrangeiras, é corredor da iniciativa cinturão e rota e abriga reservas de recursos naturais.

A manutenção do controle do local é uma das prioridades do partido e de Xi, que reiterou o objetivo em diversas ocasiões. Em 2014, durante uma visita à região, afirmou que a reforma, o desenvolvimento e a estabilidade geral do país dependem da paz e da estabilidade social e de longo prazo em Xinjiang.

Já em 2020, em simpósio sobre a região, ele reiterou a necessidade de unidade, conforme relatou a mídia estatal.

A celebração comemora a criação da região autônoma de Xinjiang, que ocorreu em 1955. A região teve também experiências de independência entre o estabelecimento no século passado e a conquista do território pela dinastia Qing no século 18.

Para o cientista político Maurício Santoro, pesquisador do país asiático e professor de Relações Internacionais do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha, Xinjiang ganhou importância política no período Xi devido fortalecimento de movimentos locais de autonomia, e ao aumento da violência étnica/religiosa entre os uigures e os chineses han, que começaram a migrar em grande quantidade para a região, parte deles incentivados pelo estado.

“Xi lançou uma campanha de repressão política muito abrangente, baseada em campos de detenção, ou de ‘reeducação’, no jargão oficial. Isso tem ocorrido numa escala como não se via desde a revolução cultural de Mao Tsé-tung”, afirma.

A estabilidade procurada pelo partido também se relaciona, portanto, com as inúmeras acusações de que o governo chinês comete uma série de crimes contra uigures. Sempre que questionado, Pequim nega as acusações.

Em 2022, por exemplo, um relatório do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU acusou Pequim de reprimir e fazer prisões arbitrárias contra o grupo étnico. O relatório dá credibilidade a alegações de “padrões condizentes com a prática de tortura”, e alertou para o risco de que, em operações “de contraterrorismo e combate ao extremismo” pelo regime chinês, crimes contra a humanidade tenham sido cometidos.

Um ano depois, a Human Rights Watch (HRW, na sigla em inglês) afirmou que as violações continuavam a despeito da denúncia da ONU.

Iniciativas pelo mundo como o The Xinjiang Data Project, do Instituto Australiano de Política Estratégica, mapeia ações do regime no território, e afirmam que o trabalho da iniciativa se concentra no mapeamento de campos de internação em massa, trabalho forçado, cadeias de suprimento, campanhas de reeducação, destruição cultural e outras questões de direitos humanos.