AQUIDAUANA, MS, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A delegada-titular da Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção, ao Crime Organizado e às Ações Criminosas Organizadas), Ana Cláudia Medina, designada para investigar as causas da queda do avião, na noite de terça-feira (23), em Aquidauana (MS), afirmou que a aeronave voltou para a pista de pouso já à noite, fora do horário autorizado: 17h40.
Segundo Medina, o arquiteto e a equipe de documentaristas saíram cedo, na terça-feira, por volta das 7h. O avião fez três sobrevoos em fazendas da região do Pantanal e voltava para a fazenda depois das 18h, fora do horário permitido na pista, que tem autorização para pouso visual. O pôr do sol ocorreu às 17h39.
“Ele [avião] veio com uma performance não muito alinhada para o primeiro pouso e acabou arremetendo”, afirmou. Depois disso, segundo relato de testemunhas à delegada, eles perderam contato visual, só viram a fumaça e, depois, os destroços.
À Folha de S.Paulo, a delegada afirma que há uma dificuldade de identificar os corpos, uma vez que foram carbonizados. O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), que estava previsto para ir ao local do acidente, não esteve lá e a expectativa é que as equipes realizem o trabalho no local na quinta-feira (25).
Ela afirma que ainda é necessário apuração para entender os motivos do acidente. “Vamos nos debruçar nas análises dos destroços para reunir as informações”, diz.
Em um vídeo divulgado pela Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Medina contou como foi a chegada de sua equipe para a investigação.
Ela disse que a Dracco foi acionada pela Delegacia Regional de Aquidauana no final da tarde de terça, noticiando a ocorrência de um sinistro aéreo que envolveria quatro vítimas fatais.
“De imediato, foi solicitado o apoio das equipes policiais de Aquidauana para a preservação do local até a chegada da equipe Dracco. De imediato, viemos até aqui, priorizamos a extração dessas vítimas fatais dos destroços da aeronave. A identificação das vítimas que acabaram em óbito, há a necessidade da sua individualização, já que no sinistro a aeronave acabou carbonizando, trazendo diversos prejuízos para a identificação desses corpos”, declara a delegada.
Após a liberação dos corpos das vítimas, a equipe da Dracco passou a fazer diligências, ouvindo testemunhas sobre as condições de voo do local, a performance para verificar o que teria concorrido para a queda.
“Fizemos diversas oitivas, requisitamos diversos exames, agora aguardamos a chegada da equipe do Cenipa para que a gente possa se aprofundar no local onde encontra-se os destroços da aeronave para verificar quais são as condições dessa aeronave. Então, precisamos aprofundar essas diligências para poder fazer um entendimento e dar uma resposta a essas famílias”, finaliza Medina.
As vítimas são o renomado arquiteto chinês Kongjian Yu, 62, o documentarista Luiz Ferraz, 42, o diretor de fotografia Rubens Crispim Júnior, 51, e o piloto Marcelo Pereira de Barros, 59. O Governo de Mato Grosso do Sul afirma que os corpos foram encontrados carbonizados, o que indica explosão da aeronave.
Kongjian é idealizador do conceito de cidades-esponja, técnica que usa a vegetação e o desenho de rios e córregos para revitalizar paisagens urbanas e evitar eventos extremos, como enchentes.
Ele esteve presente na abertura da Bienal de São Paulo, onde são exibidos projetos dele. Em nota, o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) lamentou a morte de Kongjian Yu e afirmou que a viagem ao Pantanal tinha como objetivo a participação de gravações sobre seu trabalho.
Outra vítima, o documentarista Luiz Ferraz, produziu o filme “Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia”, que trata sobre o acidente aéreo que matou jogadores, comissão técnica da Chapecoense e jornalistas em novembro de 2016 e foi indicada ao Emmy Internacional.
A aeronave, um Cesnna 175, era de 1958 e estava em situação regular, segundo registros da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Ela pertencia ao piloto Marcelo Pereira de Barros. Segundo a agência, o avião não tinha autorização para realizar voos noturnos e também não poderia realizar táxi aéreo, embora a FAB não detalhe se essa era a modalidade do voo no momento da tragédia.