SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Sou totalmente cético”, diz David Duchovny, 65, com voz firme à reportagem. “Sou uma pessoa que se baseia na ciência”, completa, como quem não quer deixar margem a dúvidas.

Após vários anos interpretando o agente Fox Mulder de “Arquivo X” (1993-2002 e 2016-2018), o ator tenta manter uma distância regulamentar do personagem para quem “a verdade está lá fora” -indiscutivelmente o mais marcante de sua carreira.

Porém, é a associação imediata que parte do público faz de sua imagem com o universo das teorias da conspiração e dos supostos complôs governamentais para esconder alguns temas do grande público que lhe rendeu o convite para apresentar o Arquivos Desclassificados. O programa estreia no Brasil no sábado (27), às 21h10, no canal pago History.

“Tenho certeza de que havia algum tipo de conexão que os produtores queriam”, admite. “Não acho que eles estavam procurando pelo autor de romances [ele tem cinco publicados] ou por Hank Moody [seu personagem na série ‘Californication’] ou algo assim. Tenho certeza que eles provavelmente estavam procurando por algo parecido com Fox Mulder.”

Mas como passar mais de uma década convivendo com temas paranormais diariamente no set e não se deixar contaminar nem um pouquinho? Duchovny tem a resposta.

“Quando você está interpretando um personagem, existe o diálogo que é escrito para você, mas o importante para os atores é o que está por baixo dele”, avalia. “Mesmo que o assunto seja paranormal ou que estejamos falando alienígenas ou o que for, não é com isso que o ator está lidando. Então, nunca nada disso realmente entrou em mim. Eu estava apenas tentando preencher esse material.”

Apesar de ter passado anos tentando se desvincular de papéis que remetessem a essa fase da carreira, ele conta que aceitou emprestar o rosto ao programa por um motivo bem pragmático. “Isso não é atuar, sabe?”, comenta. “Se tivessem me chamado para um filme assim ou para uma série de TV ficcional com esse tema, eu diria: ‘Não, já fiz isso’. Mas esse é um animal diferente, apresentar um documentário é outra coisa.”

Sobre o novo desafio, ele afirma ter tirado de letra. “Quando você está apresentando um programa como este, você está tentando ser uma ponte entre o público e o assunto, você tenta conduzi-los e ser um bom anfitrião”, explica. “É muito mais simples do que tentar fazer uma boa performance como ator.”

Os dez episódios da série documental exploram documentos oficiais que já foram considerados confidenciais, mas que foram tornados públicos após décadas em segredo. A produção mescla material de arquivo, dramatização de cenas e entrevistas com ex-agentes de inteligência e ex-funcionários do governo, entre outros.

Entre os temas abordados na primeira temporada estão os segredos que geraram as diversas lendas a respeito da Área 51, instalação militar americana que teria recebido destroços de uma nave extraterrestre (para ficar em uma das muitas histórias sobre o lugar), e a operação que inventou uma gravação de filme de ficção científica para retirar diplomatas americanos do Irã em 1980 -o episódio foi retratado no filme “Argo”, vencedor do Oscar em 2013.

“Acho que o que eu realmente gosto no programa é que alguns desses casos são de importância histórica mundial e alguns são meio engraçados, estranhos e incomuns”, afirma Duchovny. “Alguns desses casos as pessoas vão conhecer ou achar que conhecem, terão ideias sobre qual é a história, mas estamos falando aqui das histórias de verdade, da versão oficial que esteve oculta por bastante tempo.”

Apesar de estar tratando de segredos que duraram décadas, ele diz que não ficou realmente surpreso com nada do que descobriu no programa. “Sabe, a esta altura estamos meio anestesiados com a ideia de que o governo poderia fazer qualquer coisa, e acho que simplesmente pensamos: ‘Ah, isso faz sentido’.”

“Parece que estamos vivendo em uma época onde tudo é sem precedentes, mas quando você vai ver… ‘Ah, veja bem, isso já aconteceu antes’. Então, acho que a lição que fica é: quem quer que esteja envolvido nesse tipo de coisa nos dias atuais, saiba que seus segredos serão revelados em 30 ou 40 anos”, continua. “Alguém sempre está de olho.”

Perguntado se tem algum assunto da atualidade que ele gostaria que tivesse seus arquivos desclassificados, ele diz apenas que acha positivo que tudo venha a tona em algum momento. “Está na lei, e é uma lei maravilhosa”, comenta sobre a ordem executiva 13.526, emitida em 2009 pelo governo de Barack Obama, que libera a maioria dos documentos confidenciais após 25 anos (em alguns casos, esse número pode subir para 50 ou 75 anos).

Sobre novas temporadas, Duchovny diz que não faz ideias do que poderia ser explorado (“estou ansioso para ver o que mais eles têm”), mas aceita a sugestão da reportagem de explorar casos brasileiros. “Desde que eu possa ir ao Brasil, sou totalmente a favor”, brinca. “Eu adoraria.”

ARQUIVOS DESCLASSIFICADOS

Quando Estreia sábado (27), às 21h10, no History

Classificação 14 anos

Elenco David Duchovny (apresentador)