SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A queda de um avião, na noite desta terça-feira (23), deixou quatro mortos em Aquidauana, em Mato Grosso do Sul, na região do Pantanal. Segundo o Corpo de Bombeiros, a tragédia aconteceu na Fazenda Barra Mansa, no momento que a aeronave realizaria o pouso.
Entre as vítimas estão o renomado arquiteto chinês Kongjian Yu, 62, o documentarista Luiz Ferraz, 42, o diretor de fotografia Rubens Crispim Júnior, 51, e o piloto Marcelo Pereira de Barros, 59. O governo do Mato Grosso do Sul afirma que os corpos foram encontrados carbonizados, o que indica explosão da aeronave.
Kongjian é idealizador do conceito de cidades-esponja, técnica que usa a vegetação e o desenho de rios e córregos para revitalizar paisagens urbanas e evitar eventos extremos, como enchentes.
Ele esteve presente na abertura da Bienal de São Paulo, onde são exibidos projetos dele. Em nota, o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) lamentou a morte de Kongjian Yu e afirmou que a viagem ao Pantanal tinha como objetivo a participação de gravações sobre seu trabalho.
No início de setembro, o arquiteto esteve no Brasil para uma palestra para a Conferência Internacional CAU 2025. Na ocasião, ele falou sobre o conceito cidades-esponja, aplicado em mais de 250 cidades e defendeu soluções baseadas na natureza para enfrentar enchentes urbanas e os efeitos da crise climática.
QUEM SÃO AS VÍTIMAS
– Marcelo Pereira de Barros, 59 anos
– Kongjian Yu, 62 anos
– Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, 42 anos
– Rubens Crispim Jr., 51 anos
Ele retornou ao Brasil na semana passada, esteve na Bienal e seguiu viagem para o Pantanal. O chinês fundou o escritório Turenscape, em Pequim, e recebeu prêmios como o IFLA Sir Geoffrey Jellicoe Award (2020), o Cooper Hewitt National Design Award (2023) e o RAIC International Prize (2025). “Sua contribuição influenciou políticas públicas ambientais na China e em outros países”, diz a CAU.
A presidente do conselho no Brasil, Patrícia Sarquis Herden afirma que sua obra deixa um legado de compromisso com a sustentabilidade, a paisagem e a vida urbana.
Além do arquiteto, morreu também o documentarista Luiz Ferraz, que produziu o documentário “Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia”, que trata sobre o acidente aéreo que matou jogadores, comissão técnica da Chapecoense e jornalistas em novembro de 2016 e foi indicada ao Emmy Internacional.
No site da Academia Brasileira de Cinema Ferraz é descrito como especialista em projetos de documentários e produções de não ficção. Desde 2007 ele produzia e dirigia na Olé Produções e também trabalhava com outras empresas do mercado.
Ferraz também dirigiu a série “To Win or To Win”, sobre o time de futebol árabe Al Nassr FC, onde joga atualmente Cristiano Ronaldo. Também assina um episódio da série “All or Nothing: Seleção Brasileira de Futebol”, projeto da Amazon Prime Video no Brasil, assim como a direção da série “Cine Terror” para o canal Prime Box Brazil.
Ferraz também foi criador do bloco de Carnaval Confraria do Pasmado. Nas redes, o bloco lamenta a morte do cineasta. “Luiz sempre esteve presente como símbolo do espírito coletivo que nos move. Seu trabalho e sua paixão ajudaram a moldar não só o nosso bloco, mas também o carnaval de rua paulistano, que hoje pulsa forte e diversos graças, em parte, à sua dedicação”, relembra o bloco.
A Olé Produções, onde trabalhavam o documentarista e Rubens Crispim Júnior, lamentou as mortes. “A família lamenta profundamente o ocorrido e agradece as inúmeras mensagens de carinho e solidariedade recebidas neste momento de dor”, diz a empresa.
A aeronave, um Cesnna 175, era de 1958 e estava em situação regular, segundo registros da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Ela pertencia a Marcelo Pereira de Barros, que pilotava no momento do acidente. Segundo a agência, o avião não tinha autorização para realizar voos noturnos e também não poderia realizar táxi aéreo, embora a FAB não detalhe se esta era a modalidade do voo no momento da tragédia.
OPERAÇÃO DE BUSCA DEMOROU 9 HORAS
O prefeito da cidade, Mauro do Atlântico (PL), afirma que o acidente aconteceu longe da pista de pouso e da sede da pousada Barra Mansa. Por isso, além dos passageiros e piloto, não houve nenhum ferido na fazenda. “Os funcionários foram lá para apagar o fogo, mas ninguém da pousada envolvido ou ferido no acidente”, disse Mauro.
“Nós, sentimos muito pela perda tão precoce de todos eles”, afirmou o prefeito, que destacou que o piloto Marcelo era muito conhecido na cidade, “rapaz alegre e piloto respeitado”. “Só posso expressar aos familiares e amigos das vítimas os nossos profundos sentimentos de pesar, desejamos força, conforto e esperança para que possam enfrentar este luto com serenidade e consolo de Deus.”
Segundo os bombeiros, após os trabalhos da Polícia Científica e Polícia Civil, foi realizada a retirada das vítimas das ferragens e os corpos foram entregues aos cuidados da funerária e Polícia Civil. A operação de busca e resgate durou cerca de nove horas, devido a distância e as condições de acesso ao local.
De acordo com a FAB (Força Aérea Brasileira), investigadores do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos foram contatados para realizar ação inicial no acidente que envolve a queda de uma aeronave de matrícula PT-BAN.
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sobre a tragédia em MS
Na ação, profissionais aplicam técnicas específicas para coleta de dados. Em nota, a Polícia Civil do Mato Grosso do Sul, afirma que foi acionada para atender a ocorrência na zona rural de Aquidauana.
“Equipes da PCMS, incluindo peritos criminais, estão em campo para a realização de procedimentos de praxe e o levantamento de dados preliminares”, afirma.
A Fazenda Barra Mansa, onde a aeronave caiu, foi usada pela TV Globo para a gravação da novela Pantanal, exibida originalmente em 1990 e regravada em 2022. A propriedade foi fundada por Aniceto Rondon, nos anos 1940, quando recebeu as terras como herança de família, e foi aberta para visitantes em 1996.
No site da propriedade, que também funciona como hotel, é explicado que o acesso por meio terrestre é uma “aventura” e pode durar cerca de 3h30, caso o hospede saia de Aquidauana, 5h30 de Campo Grande e 6h de Bonito, também no Mato Grosso do Sul.
“As condições da estrada podem variar de acordo com a época do ano e volume de chuvas, mas na maior parte do ano o acesso terrestre em caminhonete 4×4 é possível de ser realizado”, explica a propriedade. Há, ainda, a opção de chegar no local de avião, oferecida pela fazenda. “A maior parte das aeronaves tem capacidade para até cinco passageiros”, detalha o site.
A prefeitura da cidade de Aquidauana lamenta o acidente e afirma que se une aos familiares das vítimas diante da tristeza da perda. “Desejamos força, conforto e esperança para enfrentar o luto. Que as lembranças, os feitos e os sonhos de cada um permaneçam vivos e inspirando a todos.”
A gestão municipal afirma que as investigações do caso serão realizadas pelo Dracco (Delegacia de Repressão a Crimes Organizados), com sede em Campo Grande (MS). Neste caso, a polícia local realiza apenas o apoio para o atendimento da ocorrência.
A Polícia do Mato Grosso do Sul afirma que equipes do Dracco permanecem no local realizando a preservação da cena e as diligências preliminares, até a chegada do Cenipa, prevista para as 14h desta quarta-feira.