RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – As distribuidoras de gás de cozinha afirmam que indefinições sobre a regulação do setor travam a compra de novos botijões para atender ao programa Gás do Povo, lançado no início do mês pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Com a distribuição de botijões de graça para até 16 milhões de famílias, o programa deve elevar em até 8% as vendas de GLP (gás liquefeito de petróleo) envasado em pequenos vasilhames no país, estima o Sindigás (Sindicato das Empresas Distribuidoras de GLP).
O presidente da entidade, Sergio Bandeira de Mello, diz que o país precisará em torno de cinco a dez milhões de novos botijões para atender o aumento da demanda. As empresas já iniciaram conversas com os fornecedores, afirma, mas os negócios ainda não foram fechados.
“Como que eu compro cinco a dez milhões de garrafas, custando R$ 220 cada uma, enquanto a ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis] diz que, talvez em março, nenhuma mais me pertença?”
A ANP estuda uma ampla revisão na regulação do setor, com a introdução de medidas questionadas pelas grandes empresas, como a possibilidade de enchimento parcial dos botijões e o fim da exclusividade dos vasilhames, permitindo que empresas vendam botijões de concorrentes.
Defensores das mudanças alegam que elas ajudariam a reduzir o custo do frete dos botijões e, portanto, o preço final do gás; além de permitir a entrada de novas empresas em um setor hoje dominado por cinco grandes companhias.
As grandes distribuidoras, que respondem por cerca de 80% das vendas, reclamam que as propostas reduzem a segurança dos botijões sem grande impacto nos preços e podem abrir espaço para a entrada do crime organizado no setor de gás de cozinha.
A ANP diz que ainda não há decisão sobre o tema e que eventual mudança seria acompanhada de “medidas de segurança e rastreabilidade dos botijões, que permitirão não apenas manter, como melhorar a fiscalização”.
Em entrevista durante a conferência Liquid Gas Week, Bandeira de Mello defendeu uma definição rápida sobre o tema, já que o programa Gás para Todos deve atingir todo o público esperado em março de 2026. As empresas, alegou, precisam de tempo para adquirir os botijões.
Também presente no evento, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, evitou se posicionar diretamente sobre o tema, mas sinalizou que o governo não apoia mudanças bruscas na regulação do setor, que hoje é alvo de uma das principais bandeiras eleitorais de Lula.
“Há por parte de uma visão de governo que a estabilidade regulatória é que nos dá segurança na execução de programas tão relevantes como o programa Gás do Povo”, afirmou.
“A agência reguladora autônoma tem todo o direito de debater esse tema, mas nós temos o Conselho Nacional de Política Energética, que eu presido, que estará sempre atento a emanar políticas públicas que deem estabilidade aos investimentos no Brasil.”