BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – A atual síndica do edifício Juscelino Kubitschek, Maria Lima das Graças, 78, se afastará de forma definitiva do condomínio que administrou por mais de 40 anos em Belo Horizonte.

De acordo com o advogado do edifício, o quadro de saúde dela é considerado grave, e levou o subsíndico Manuel Gonçalves de Freitas Neto, que atua no prédio há 20 anos, a convocar novas eleições para a gestão do condomínio.

Os moradores descontentes com a gestão da síndica, porém, duvidam de uma alteração no comando da administração, que deve continuar sob o atual interino do cargo. Eles também criticam a data determinada para o pleito, na próxima terça-feira (30), às 10h30.

Todos conversaram com a Folha de S.Paulo sob condição de anonimato, por temer represálias.

Com cerca de mil moradores e 1.068 apartamentos –parte deles está desocupada–, o edifício foi encomendado no início da década de 1950 pelo então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, ao arquiteto Oscar Niemeyer. As obras só ficaram prontas na década de 1970.

As 13 plantas são distribuídas em dois blocos, um de 23 andares e outro de 36. O JK foi tombado como patrimônio cultural pela prefeitura da capital mineira em 2022.

A gestão da síndica acumula uma série de polêmicas, que incluem processos contra moradores, a determinação de um código de vestimenta para atendimento na administração do prédio e a exigência de um cheque caução de R$ 4 milhões para quem quisesse concorrer na eleição de síndico.

Para o advogado do condomínio, as queixas são de moradores que fazem oposição à síndica e estão insatisfeitos por processos movidos pelo condomínio contra eles.

A ordem do dia para a assembleia que estabelece a eleição da próxima semana não prevê esse caução milionário, mas foi recebida com críticas por moradores com quem a Folha de S.Paulo conversou.

A principal é em relação à data da eleição, durante o horário comercial e em um dia útil, além de ter sido marcada com pouca antecedência –a menos de dez dias do pleito.

O prazo curto, eles dizem, inviabiliza a organização dos moradores para a formação de uma chapa descontente. Há também o medo de retaliação, que, segundo eles, também impede a organização de uma oposição no prédio.

Outras queixas são sobre um item da ordem do dia que estabelece a ratificação pela assembleia de todos os atos praticados pela administração do condomínio até aquela data.

Os moradores afirmam que a atual administração diz ter em mãos uma quantidade de procurações de proprietários dos apartamentos que dificulta uma vitória daqueles que estão insatisfeitos.

O advogado do condomínio afirmou que a data foi uma escolha visando a coletividade e levou em conta a logística para uma assembleia do edifício.

Um dos proprietários com quem a Folha de S.Paulo conversou avalia que o atual subsíndico é mais aberto ao diálogo que Maria das Graças.

Ele também aponta que Manuel Neto apresentou sugestões de atualizações de normas do condomínio que devem agradar aos moradores, como a modernização do sistema de identificação de visitantes nas portarias e cadastro de email e WhatsApp para facilitar a comunicação com a administração.

A eleição do próximo dia 30 acontece uma semana antes de uma audiência marcada pela Justiça sobre uma ação civil pública protocolada pelo Ministério Público de Minas Gerais contra a administração do JK.

A Promotoria argumenta que os gestores foram omissos na manutenção do condomínio e citam a ausência do auto de vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB).

O MP-MG chegou a pedir o afastamento cautelar da síndica e do subsíndico do edifício, mas a recomendação foi negada pela Justiça.