SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O arquiteto Kongjian Yu, 62, morto nesta terça-feira (24) em um acidente de avião em MS, é considerado um dos pais do conceito de cidades-esponja. Professor da Universidade de Pequim, ele participou da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, onde exibiu obras que exploram a relação entre arquitetura e o meio ambiente.

Ele também participou da abertura da Conferência Internacional do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), em Brasília. Sua palestra lotou o auditório, com pessoas sentadas no chão e outras acompanhando em telões, segundo a entidade.

“Vejo o Brasil como a última esperança para salvar o planeta”, disse durante o evento.

Nascido em Zhejiang, na China, o arquiteto se graduou pela Universidade Florestal de Beijing e fez doutorado em Harvard, segundo a Fapesp. Ele ganhou prêmios internacionais, como o IFLA Sir Geoffrey Jellicoe Award (2020), o Cooper Hewitt National Design Award (2023) e o RAIC International Prize (2025).

Cidade-esponja é um projeto chinês iniciado oficialmente em 2015 e que é visto como uma possível resposta para tragédias como a do Rio Grande do Sul, de 2024. Esse conceito prevê a adoção de áreas verdes, como parques arborizados e alagáveis, que deem espaço e tempo para a água ser absorvida pelo solo após as chuvas. A intenção é abrir espaços para que não haja devastação com enchentes.

À Folha, em 2024, Kongjian defendeu um olhar diferente para as tragédias climáticas, como as que atingiram o Brasil. “A enchente não é nossa inimiga. Precisamos encontrar uma solução e financiar essa solução para resolver o problema de uma forma holística. A alternativa é uma infraestrutura ecológica baseada na natureza, e não uma infraestrutura de concreto cinza.”

Disse também que cidades-esponja são “um conceito que tem origem na China, mas não há uma abordagem rígida” sobre como solucionar os problemas. “Podemos aprender com o que já foi implementado na China, mas as soluções para cada país e cidade serão diferentes, pois o contexto local é diferente.”

Ele também defendeu implementar seus princípios sem abandonar as “infraestruturas residuais”, como piscinões e barragens. E afirmou que a cidade-esponja não pode ser considerada, isoladamente, “uma bala de prata”.