SÃO PAULO, SP, WASHINGTON, EUA, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi alvo nesta terça-feira (23) de uma ofensiva em três frentes na Câmara dos Deputados, em claro sinal de que seu mandato está sob ameaça. Além disso, assistiu ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fazer uma sinalização simpática a Lula (PT) durante discurso na Assembleia Geral da ONU.
No dia anterior, o filho de Bolsonaro já havia sido denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) sob a acusação de, a partir dos EUA, patrocinar uma tentativa de coagir a Justiça brasileira.
A terça-feira começou com a notícia, antecipada pela coluna Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, de que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), havia negado a indicação feita pelo PL para que Eduardo virasse líder da minoria na Casa, uma manobra do partido para tentar evitar a perda do mandato do parlamentar por faltas.
Eduardo está desde o primeiro trimestre nos EUA, de onde patrocina uma campanha junto ao governo local para tentar forçar autoridades brasileiras a barrar processos contra o pai.
A decisão de Motta foi lida nos bastidores da Câmara como um aceno à ala do STF (Supremo Tribunal Federal) ligada a Alexandre de Moraes e está inserido no contexto do acordo firmado entre o centrão e esses ministros para emplacar uma redução de penas dos condenados pelos atos golpistas e, com isso, rejeitar a proposta bolsonarista de ampla anistia a todos.
Deputados do PL afirmaram que Motta havia sinalizado concordar com a indicação de Eduardo para a liderança, mas recuou por pressão de Moraes.
A Constituição estabelece que perderá o mandato o deputado ou o senador que faltar de forma injustificada a um terço das sessões ordinárias do ano.
Horas depois de vir à tona a decisão do presidente da Câmara, o Conselho de Ética da Casa instaurou processo de cassação do mandato do parlamentar por ataques ao STF e ameaças à realização das eleições em 2026.
O relator do processo será escolhido pelo presidente do conselho, Fabio Schiochet (União Brasil-SC), a partir de uma lista tríplice sorteada: Duda Salabert (PDT-MG), Paulo Lemos (PSOL-AP) e Delegado Marcelo Freitas (União Brasil-MG).
Em seguida, a Folha de S.Paulo mostrou que a Câmara pretende incluir o nome do filho de Bolsonaro como devedor no Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal (Cadin) devido a um débito não pago de R$ 13.941 relativo a faltas injustificadas no mês de março.
Além das ofensivas vindas da Câmara, Eduardo e os bolsonaristas foram surpreendidos com o breve encontro entre Lula e Trump na Assembleia-Geral das Nações Unidas, ocasião em que o norte-americano afirmou ter tido “uma excelente química” com o brasileiro.
Eduardo foi às redes destacar os momentos em que Trump critica o governo brasileiro por suposta perseguição judicial e censura e afirmou que o gesto só reafirma a genialidade de negociador do presidente dos EUA.
“Tudo isso é um prenúncio do que estará sobre a mesa num eventual encontro entre Trump e Lula que, se confirmado, seria certamente no Salão Oval. E Lula não terá escolha: terá de ir. Note bem, será no momento, no local e nos termos que Trump escolheu, sendo que o Itamaraty está anulado, sem poder alinhar previamente a reunião”, escreveu Eduardo.
Nos bastidores, porém, integrantes do centrão no Congresso dizem ver um arranho a mais no envolvimento do bolsonarismo com Trump, dessa vez coroado pela “excelente química” citada pelo norte-americano.
Em mais uma indicação de isolamento político e de ações que conflitam com posições de seu próprio grupo, Eduardo também disse a mais de um interlocutor que será candidato a presidente da República com ou sem o apoio de Jair Bolsonaro.
Ele tem afirmado que vai sair do PL e se filiar a um partido menor para se lançar à sucessão de Lula.
A intenção do centrão e de boa parte do bolsonarismo, porém, é se unir em uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Na visão de Eduardo e de alguns de seus apoiadores, políticos do centrão querem se apropriar do espólio do ex-presidente, e por isso levam a Bolsonaro informações e cenários equivocados, induzindo-o a acreditar que a única saída para melhorar sua condição jurídica é apoiar um outro candidato.