NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Em oposição ao discurso e às políticas contra as mudanças climáticas do presidente dos EUA, Donald Trump, o Brasil fechou um acordo com o governo do estado americano da Califórnia para incentivar o mercado de carbono, os biocombustíveis e energias renováveis.

O documento foi assinado nesta terça-feira (23), em Nova York, onde uma comitiva brasileira está para acompanhar a Assembleia-Geral da ONU e a Semana de Clima da cidade.

O memorando de entendimento cita, por exemplo, “a importância da transição para energia limpa”, diz que “a mudança do clima é uma questão urgente” e ressalta a “importância dos biocombustíveis”.

O governador da Califórnia, Gavin Nelson, vem se firmando como principal contraponto a Trump dentro dos Estados Unidos.

Ele já comparou o atual presidente com “ditadores falidos”, após o governo federal enviar forças militares para conter protestos em Los Angeles.

Desde que assumiu o seu novo mandato, Trump cortou incentivos para políticas de preservação ambiental e transição energética, vem incentivando combustíveis fósseis, e anunciou que o país vai deixar no ano que vem o Acordo de Paris —acordo no qual seus signatários se comprometem com metas de descarbonização.

Por isso, os Estados Unidos não enviaram delegação para Bonn, na Alemanha, em julho, quando aconteceram negociações preparatórias para a COP30, a conferência de clima da ONU, que será em Belém (PA), neste ano.

Em contraste, o governo da Califórnia levou uma delegação própria para os debates na Europa, e apesar de não ter um mandato formal dentro da UNFCCC —órgão ambiental das Nações Unidas—, participa das tratativas e apresenta contribuições.

No início deste ano, incêndios florestais atingiram grande parte do estado, inclusive a capital Los Angeles, e causaram o que se estima ser o maior prejuízo da história em razão de eventos climáticos extremos.

Um levantamento da Universidade da Califórnia estima que os danos giram na casa de US$ 95 (R$ 500 bi) e US$ 164 bilhões (R$ 866 bi).

Nesta terça, em discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, Trump chamou as mudanças climáticas de um golpe e a transição energética de um esquema.

O acordo foi assinado nesta terça, pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a secretária de Proteção Ambiental da Califórnia, Yana Garcia.

O documento prevê nove áreas de cooperação, inclusive para desenvolvimento do mercado de carbono.

No Brasil, este mercado já foi aprovado por lei, mas aguarda regulamentação. Um dos principais pontos de atenção do Ministério da Fazenda é fazer com que ele seja compatível com outros mercados do mundo, para garantir a possibilidade de investimentos estrangeiros.

O memorando também prevê “estratégias para garantir que a produção e o consumo de biocombustíveis não resultem em desmatamento nem em impactos negativos nos mercados de alimentos”.

O setor de biocombustíveis é um ponto de disputa entre Brasil e Estados Unidos, já que ambos são grandes produtores de soja.

O documento determina que os signatários se comprometem a “incentivar o hidrogênio renovável” e “promover o desenvolvimento e a integração de energias renováveis” —ambas pautas avessas ao governo Trump.

Outras áreas de cooperação também são contempladas no documento, como soluções baseadas na natureza, na cultura e para soluções urbanas e voltadas à infraestrutura resiliente.