SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com extensa trajetória em companhias de diversos setores nas últimas décadas, o empresário Fábio Barbosa afirma que as grandes manifestações de domingo (21) contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia foram mal analisadas.

Para ele, ficou a impressão equivocada de que os atos são um protesto da esquerda, mas ali estavam também representadas pessoas que, como ele, possuem orientação econômica de direita.

“Ninguém quer impunidade”, afirma.

Barbosa, que presidiu instituições como Santander e Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e hoje segue como membro de conselhos de administração de companhias como Ambev, Votorantim e Natura, diz ver no episódio dessa PEC um conflito análogo ao debate econômico sobre o gasto público.

Segundo ele, a esquerda costuma puxar para si uma espécie de monopólio do bem social, insinuando que o bem-estar da população não é prioridade de quem defende a responsabilidade fiscal.

No cenário ainda polarizado rumo às eleições de 2026, Barbosa afirma que as conversas do empresariado ainda não apontam um nome definitivo para apoiar, mas diz haver espaço para “candidatos que se comprometam com políticas econômicas de direita, ou seja, mais liberais, mais voltadas ao crescimento, à participação e ao incentivo para a iniciativa privada e para os investimentos”.

FÁBIO BARBOSA – Como o sr. está vendo o Brasil hoje sob o ponto de vista econômico e também político?

FB – A economia caminha, mas baseada em um combustível chamado gasto público, que vai acabar em algum momento. Há uma visão de que aquele que gasta muito é mais preocupado com o bem social. E me incomoda há muito tempo [ver] a esquerda se colocar como dona desse monopólio, [dizendo:] “nós queremos tratar bem a população, e aqueles que advogam por uma política fiscal mais contida são pessoas que não se preocupam com o bem social”. Isso não é verdade. A diferença é apenas sobre qual caminho percorrer.

Eu acho insustentável o caminho do gasto público exagerado, que leva a economia à crise. Existe um outro caminho, que eu vou chamar aqui de orientação econômica de direita, que envolve fazer investimentos, incentivar o setor privado para que a economia possa crescer, gerando prosperidade para todos.

Os dois lados buscam o bem social. A esquerda não tem o monopólio do bem social. Eu concordo com aqueles que propõem o caminho das finanças equilibradas para ter um crescimento sustentado, trazendo prosperidade para todos. Dou exemplos, como o marco regulatório do saneamento, que foi contestado pela esquerda, e rodovias concessionadas, que são muito melhores do que onde não houve concessão.

P.- Com eleição em 2026, cresce o receio de avanço da despesa pública com fins eleitorais?

FB – O governo tem mostrado que está querendo aprovar medidas populistas na busca de ganhar o apoio da população, mas hipotecando o futuro do país. O gasto público tem um limite.

O Brasil tem crescido, é fato. Nesses 20 e tantos anos de política de esquerda, com algum interregno, o país não andou para trás. Mas ficou para trás. O Brasil perdeu o ranking em quase todos os aspectos justamente por seguir uma política que não é a que traz mais prosperidade para a população.

P. – O sr. sempre foi entusiasta da 3ª via e se posicionou contra a polarização. Acha que o país vai conseguir superar as divisões?

FB – Meu posicionamento é o que eu chamo de orientação econômica de direita. Não conto com o bolsonarismo para resolver os problemas da economia. Conto muito mais com os moderados de direita que acreditam em uma política liberal, mas não no radicalismo representado pelo bolsonarismo.

O posicionamento que o bolsonarismo vai ter na eleição é importante, tem parte dos votos. Eu vejo com preocupação alguns candidatos exagerando na dose, no sentido de buscar o apoio dessa extrema-direita. Sem ser um grande entendedor de política, por que tantos agrados a essa ala mais radical? Acho que ela não terá alternativa, portanto, vai acabar se compondo com o candidato de centro-direita, o centro moderado, que acredita que temos um caminho para uma política econômica que gere prosperidade.

Tem quatro ou cinco bons candidatos, Tarcísio, Ratinho, Caiado, Zema e Eduardo Leite. São ótimos nomes em vários aspectos.

P. – Muitos empresários dizem que Tarcísio exagerou, não?

FB – Na medida em que ele se aproxima demais do bolsonarismo, quebra pontes com a parte mais moderada da direita. Mas há espaço para candidatos que se comprometam com políticas econômicas de direita, ou seja, mais liberais, mais voltadas ao crescimento, à participação e ao incentivo para a iniciativa privada, para os investimentos em ciência, tecnologia, sem deixar de fazer educação, saúde, e buscando produtividade do país, simplificação das leis, mais concessões para que o setor privado possa, dentro das regras estabelecidas, suprir necessidades que o estado não tem suprido.

P. – O sr., como interlocutor do empresariado, tem ouvido quais conversas sobre o nome para apoiar em 2026, como em 2022, quando apoiaram Simone Tebet?

FB – Todos entendem haver uma oportunidade para um programa voltado a pavimentar o caminho para o setor privado fazer investimentos em parceria com o estado. O empresariado entende que não está na hora de fechar nomes, porque tem quatro ou cinco bons nomes. Tem aspectos com relação à segurança pública, qual é a política de cada um e tudo mais. Mas como me disse uma vez um importante político: ‘Nós não vamos escolher o candidato que queremos, nós vamos escolher, dentre aqueles candidatos que forem colocados pelos partidos, aquele que entendermos ser o mais bem preparado’. Temos buscado trabalhar em um projeto de governo. Não concordo com a administração Trump, mas lá fizeram um projeto com um detalhamento muito claro do que fazer.

P. – As manifestações de domingo o surpreenderam?

FB – Não. O que me surpreendeu foi a cobertura da imprensa, que atribuiu esse movimento à esquerda. Eu acho que não existe um monopólio da esquerda contra a corrupção. Diga-se de passagem, com pouca credibilidade para empunhar essa bandeira. Nesse espectro das pessoas a que me referi há pouco, tem muita gente que estava nos protestos de domingo, porque somos contra a PEC da Blindagem e o projeto da anistia. Ninguém quer impunidade.

Entre os que convocaram os protestos havia partidos de esquerda.

Assim como a esquerda não tem o monopólio de querer o bem da sociedade, as manifestações de domingo não são um monopólio dela. Tirando o pessoal mais radical à direita, não há qualquer indício de pessoas que sejam a favor da PEC da Blindagem e do projeto de anistia. Na verdade, existe um incômodo sobre como esse Congresso se desconectou da sociedade.

Temos de fazer o voto distrital. O Congresso está desconectado, seja porque não tem financiamento da sociedade, seja porque não precisa do Executivo para fazer suas deliberações, seja porque as pessoas votam e não sabem em quem votaram.

Outra coisa: A gente aponta para o Congresso como se os problemas estivessem só lá. O Congresso tem de fazer reforma da Previdência ou tributária. Mas tem uma reforma que a sociedade tem de fazer: a reforma de valores. Esta é uma sociedade que tolera e comete pequenos delitos. Um bom começo para colocarmos o país em ordem é cada um olhar o que está fazendo no dia a dia. O Brasil é o que nós dele fazemos com nossas atitudes. Precisamos de uma liderança que tenha virtude.

RAIO-X | FÁBIO COLLETTI BARBOSA, 70

Formado em administração pela FGV, empresário presidiu instituições como Santander e Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e hoje segue como membro de conselhos de administração de companhias como Ambev, Votorantim, Natura, além de cargos em conselhos de entidades como Centro de Liderança Pública, UN Foundation e Unicef