BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), chamou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de “companheiro”, após o americano declarar ter química com o presidente Lula (PT) nesta terça-feira (23).
“O companheiro Trump parece que gostou do companheiro Lula e vão começar a conversar sobre coisas realmente importantes, que é integração econômica, investimentos mútuos, parceria”, disse o chefe da equipe econômica.
Haddad afirmou ainda que os Estados Unidos estão colhendo frutos da sobretaxa de 50% aplicada a produtos brasileiros, pagando caro por café e carne.
Em evento sobre direito tributário no IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), fundado pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro ironizou o tarifaço de Trump e disse torcer para que a conversa entre os dois chefes de Estado seja produtiva.
“Alguém deu a brilhante ideia de tarifar em mais 40% os produtos brasileiros [depois das tarifas de 10% já anunciadas de 10%] e agora eles estão colhendo os frutos dessa decisão, pagando caro no café, na carne, nos produtos brasileiros”, disse Haddad.
O ministro da Fazenda afirmou ainda que o Brasil está preparado para lidar com desafios, que incluem a guerra fiscal entre países. Segundo Haddad, o país tem avançado na relação com outras regiões, como na Ásia e na Europa.
“O Brasil está em condições de sentar à mesa com qualquer grande player internacional. Estamos com excelentes relações com a Ásia. Estamos fechando até o final do ano um grande acordo com União Europeia e Mercosul. Reatamos o diálogo com países da África”, disse.
Ele também relembrou o período do governo do ex-presidente Joe Biden, que ganhou as eleições contra Trump em 2020. Haddad disse esperar que as discussões sejam recuperadas.
“Durante o período Biden inteiro, nós estávamos em discussão para alinhar investimentos estratégicos no campo da transformação ecológica. Isso tem que ser resgatado, foi interrompido, mas quero crer que as iniciativas brasileiras vão aproximar os dois países.”
Além das relações entre EUA e Brasil, o ministro da Fazenda falou ainda sobre a reforma tributária. De acordo com Haddad, a reforma vai sumir com algumas distorções no sistema de tributos do país.
Mais cedo nesta terça, o ministro afirmou em entrevista ao canal ICL que o Brasil está aproveitando o momento para implementar a maior reforma tributária da história e para corrigir distorções que favorecem o “andar de cima” por meio da litigância contra o Estado.
Na entrevista, Haddad disse que o projeto de ampliação da faixa de isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais deve ser sancionado pelo presidente Lula em outubro.
Segundo o ministro, o desafio após a aprovação do projeto está na compensação fiscal. De acordo com Haddad, governo quer financiar a renúncia de receita com a taxação dos chamados “super-ricos”, que devem pagar cerca de R$ 30 bilhões. A taxação dos mais ricos enfrenta resistência da oposição no congresso.
Além da isenção do IR, o segundo projeto de regulamentação da reforma tributária foi aprovado na semana passada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado. A versão aprovada reduz as chances de autuação das empresas que não conseguirem cumprir as novas obrigações fiscais no ano-teste de 2026. Pelo novo texto, o contribuinte será intimado para resolver as pendências antes da imposição definitiva de multa. Se ele atender o pedido no prazo de 60 dias, a penalidade será extinta.