NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou sua fala na Assembleia-Geral das Nações Unidas nesta terça-feira (23) para atacar a ONU, exaltar o próprio retorno à Casa Branca e expressar novamente seu desejo de ser agraciado com um Nobel da Paz.
Trump disse ter sido responsável por solucionar sete conflitos ao redor do mundo alguns de fato foram encerrados depois de mediação dos EUA, como Azerbaijão e Armênia, Camboja e Tailândia, e Índia e Paquistão. Outros continuam ocorrendo ou estão congelados, como o conflito entre a República Democrática do Congo e Ruanda, a guerra entre Israel e Irã, e a disputa entre Kosovo e Sérvia.
O sétimo, entre Egito e Etiópia, nunca chegou a ser uma guerra, tratando-se de tensões por conta de uma barragem no rio Nilo. Falando sobre os conflitos, Trump disse que a ONU não deu “nem um telefonema” para oferecer ajuda.
Foi a primeira vez que o americano se dirigiu à plateia de líderes mundiais em seu segundo mandato. Ao subir ao palco, ele foi recebido por parcas palmas. Um número grande de delegações, incluindo a do Brasil com exceção do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, não o aplaudiu.
A recepção fria, no entanto, não impediu Trump de fazer um longo discurso, ultrapassando a marca dos 57 minutos, e de explicar o que seriam lições dos EUA sob seu comando ao resto do mundo. “Chegou a hora de encerrar o experimento de fronteiras abertas. Eu sou muito bom nessas coisas. Os países de vocês estão indo para o inferno. Nos EUA, nós tomamos ações ousadas para acabar com a imigração fora de controle rapidamente.”
Além da imigração, o alvo principal de Trump foi a crise climática. Ele disse que ambientalistas querem “matar todas as vacas do mundo” e que o aquecimento global seria “a maior enganação da história da humanidade”.
O americano ainda defendeu estar fazendo sozinho o trabalho que a ONU deveria comandar. “É ruim que eu tive que fazer isso em vez da ONU. E, tristemente, em todos os casos a ONU nem tentou ajudar, em nenhum deles”, afirmou.
“Tudo que ganhei da ONU foi uma escada rolante que parou no meio”, disse, em referência a um problema com o equipamento na sede da organização. “Se a primeira-dama não estivesse em boa forma, ela teria caído. Mas ela está em boa forma, nós dois estamos”, disse. “E aí, o teleprompter que não funciona. Isso são as duas coisas que ganhei da ONU, uma escada e um teleprompter ruins”, afirmou, de modo sarcástico. Mais tarde, a Casa Branca insinuou que o presidente foi sabotado.
Trump também atacou o governo de seu antecessor, Joe Biden, e disse que impediu o que chamou de “invasão” de imigrantes. “A ONU não está resolvendo problemas como deveria e está criando novos problemas para que nós solucionemos. O melhor exemplo disso é o problema político número um: a crise de migração descontrolada. Está totalmente descontrolada. Os países estão sendo arruinados”, afirmou.
O republicano discursou após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O Brasil tradicionalmente é o primeiro a falar durante o encontro seguido pelos EUA, por serem o país anfitrião.
Antes da fala do presidente americano, a secretária de Imprensa de Trump, Karoline Leavitt, afirmou que ele ressaltaria o “retorno da força” do país em seu discurso. Outro ponto central seria uma “fala dura” sobre o que chamou de “fracassos do globalismo” termo usado pela direita americana para criticar esforços de cooperação internacional e multilateralismo. Trump de fato atacou instituições internacionais além da ONU e multilateralismo, revelando visão unilateralista da política global.
Além de incluir destaque incomum para assuntos domésticos, como a segurança pública em Washington, alvo de intervenção federal de seu governo, Trump repetiu assuntos perenes de seus discursos desde a campanha de 2024, como ataques à ciência climática e a defesa de combustíveis fósseis.
Trump defendeu ainda a aplicação de tarifas comerciais como um “instrumento de defesa” e algo que sustenta a “soberania e a segurança” dos EUA.