BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo Lula (PT) reagiu a declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e negou relação entre o uso de paracetamol e o autismo em crianças.
O Ministério da Saúde disse que são “infundadas informações que relacionam autismo ao uso de medicamentos amplamente estudados, com evidências robustas de sua segurança e eficácia, como é o paracetamol”.
Em nota divulgada nesta terça-feira (23), a pasta afirmou que associar o autismo ao uso do medicamento na gestação pode causar pânico e prejuízo para a saúde de mães e filhos, além da recusa de tratamento em casos de febre e dor.
Sem citar Trump, o ministério disse que a associação é um ato de “desrespeito às pessoas que vivem com Transtorno do Espectro Autista e suas famílias”.
No dia anterior, o presidente dos EUA disse que a FDA (Food and Drug Administration, a Anvisa dos EUA) pedirá aos médicos que aconselhem mulheres grávidas a não usarem paracetamol, princípio ativo do Tylenol, devido a um suposto risco aumentado de autismo para os bebês.
Trump ainda sugeriu leucovorina, uma forma de ácido folínico, como tratamento para sintomas de autismo. No entanto, pesquisadores afirmam que a droga, usada para tratar alguns pacientes com câncer em quimioterapia, demonstrou ser promissora em ensaios clínicos muito pequenos, e que pesquisas de grande porte ainda são necessárias para chegar a uma conclusão sobre o autismo.
O governo brasileiro ainda afirmou que a saúde não pode ser alvo de atos irresponsáveis e fez referências à resposta do governo Jair Bolsonaro (PL) à pandemia da Covid-19. “A atuação de lideranças políticas na criação de informações deturpadas pode gerar consequências desastrosas para a saúde pública, como vimos na pandemia de Covid-19, com mais de 700 mil vidas perdidas no Brasil.”
“O Brasil busca reverter os prejuízos causados pelo negacionismo, que impactou na adesão da população às vacinas em um país que já foi referência mundial neste tema”, disse ainda o Ministério da Saúde.
As preocupações com o paracetamol e os problemas de desenvolvimento em crianças são antigos. Cientistas estudam uma possível conexão há anos, mas as pesquisas até agora não produziram resultados conclusivos.
O anúncio de Trump foi feito ao lado do secretário de Saúde americano, Robert F. Kennedy Jr., que acumula declarações contrárias às vacinas e recentemente demitiu especialistas de comitê consultivo sobre imunização.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), ainda foi uma das autoridades brasileiras sancionadas pelo governo Trump em reação ao julgamento de Jair Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal).
Além de revogar os vistos de Padilha e de sua família, o governo Trump restringiu a circulação do ministro brasileiro a cinco quarteirões em Nova York durante a 80ª Assembleia-Geral das Nações Unidas. Padilha desistiu de participar do evento por causa das restrições.