SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A paisagem do quarto da professora Rosa Maria Vieira, 77, era uma das vantagens de morar no edifício Jandyra, em Higienópolis, no centro de São Paulo. Até a tempestade de segunda-feira (22), quando o vento arrancou a janela e a porta do cômodo. Ainda assim, ela considera que teve sorte, pois não se feriu.

Do quarto é possível ver também o estrago nos telhados das casas próximas. O cômodo tem vista para o estádio do Pacaembu, e ela costuma assistir partidas e outros eventos realizados na arena.

Foi assim nos últimos 20 anos, mas agora ela pensa em mudar de endereço. “Adoro o meu apartamento, mas o que eu vejo é que o problema de ordem climática deixou de ser exceção. A cada ano nós temos uma nova exceção. E a próxima primavera? E o próximo verão?”, diz.

Tudo aconteceu por volta das 14h, e em questão de minutos, o cenário virou de destruição. A professora estava sozinha no apartamento. “Um barulho infernal”, diz Vieira. “Foi um vento muito forte. Tive medo de ser carregada”. Nesta terça (23), o apartamento já estava livre de cacos de vidro, mas ainda assim dava para ver as marcas por toda a parte.

Ela conta que chegou a ficar presa no quarto antes da porta ceder à força do vento. “Eu não conseguia sair. Via a coxa da cama, cobertor, tudo isso voando, e eu não conseguia abrir a porta e passar.”

Em frente ao quarto, fica uma biblioteca cheia de livros, que passaram quase ilesos. Esse era um dos principais medos da moradora. Embora as estantes tenham marcas da destruição, elas não cederam. “Eu estou meio em choque ainda. A sorte que tive, realmente, é que eu não me machuquei e não houve nenhum acidente”, diz.

Alguns moradores do edifício tiveram menos sorte. O maquiador Henrique Cardoso morava no último andar desde dezembro, quando a reforma do apartamento acabou. Ele voltava de viagem quando viu o lar completamente destruído. “Minha casa está inabitável”, diz. “Não dá pra morar. O vento veio de frente e molhou tudo, o sofá, as coisas, a cama. Foi um tornado.”

O apartamento tinha uma varanda de aproximadamente nove metros que também foi arrancada. A solução temporária vai ser um tapume. “Eu vou ter que tapar de uma maneira para tentar isolar o máximo e preservar algumas coisas que ainda estão boas”, diz.

Além dos diversos cacos de vidro, o apartamento tinha várias coisas de madeira, que incharam e estragaram com água da chuva. “Vou ter que fazer outra reforma na casa inteira, mas o mais importante para mim eram as vidas que estavam aqui dentro”, diz o maquiador.

O irmão dele, uma diarista e dois cachorros e dois gatos estavam dentro do apartamento durante a tempestade. “Eu achei que o gato tinha voado pela janela, porque ele sumiu, mas ele tinha se escondido no quarto. Todas as coisas da casa voaram, porque a varanda era como se fosse uma sala. Foi uma cena aterrorizante.”

Pouco tempo depois, Cardoso recebeu um trabalhador para avaliar o estrago. Ele não foi o único: a portaria do edifício Jandyra estava movimentada com a chegada e saída de funcionários de serralharias e vidraçarias.

Um deles disse que o morador que foi visitar teria de contratar outro serviço, pois era necessário trocar toda a estrutura da janela. Enquanto isso, alguns proprietários recorreram ao improviso, com sacos plásticos no lugar onde costumava ser a vidraça.