SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma nova diretriz tornou mais rígidas as metas máximas dos níveis de colesterol no sangue, criou uma nova categoria de risco e recomendou um novo exame para toda a população. O objetivo é reduzir os níveis e os riscos de mortes por infarto e AVC da população.

A nova recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) foi anunciada no 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em São Paulo.

Segundo o autor principal José Francisco Kerr Saraiva, assessor científico da SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), a elaboração do documento visa não somente educar médicos, mas também pressionar o poder público por campanhas efetivas para a redução do colesterol.

A nova diretriz substitui o documento anterior, publicado em 2017, e se alinha às recomendações mais avançadas mundialmente para a prevenção da asterosclerose, condição provocada pelo acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos. Este é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares.

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METAS MAIS RÍGIDAS E NOVA CATEGORIA DE RISCO

As metas para o controle do LDL, o “colesterol ruim”, foram redefinidas para pessoas com riscos variados. Elas dizem respeito ao nível máximo que o paciente pode manter para não correr maiores riscos de ter uma doença cardiovascular.

Para saber o risco de um paciente são considerados fatores como idade, sexo, presença de doenças inflamatórias crônicas e histórico familiar.

A diretriz criou uma nova categoria de risco: o extremo. Entram nela pessoas que têm histórico de múltiplos eventos cardiovasculares maiores ou um evento e também condições de alto risco. Estes pacientes devem manter níveis menores que 40 mg/dL. Antes, a meta era de no máximo 50 mg/dL.

Para aqueles com baixo risco, foi reduzida de 130 mg/dL para 115 mg/dL. A seguir, as novas metas para todas as categorias de LDL:

– Baixo risco: menor que 115 mg/dL

– Risco intermediário: menor que 100 mg/dL

– Alto risco: menor que 70 mg/dL

– Muito alto risco: menor que 50 mg/dL

– Risco extremo: menor que 40 mg/dL

A diretriz também recomendou nova meta para o colesterol não-HDL, que passou a ser de 30 mg/dL acima da meta de LDL de cada indivíduo conforme seu risco. Aqueles com risco extremos, por exemplo, tem meta de HDL menor que 40 mg/dL e de não-HDL menor que 70 mg/dL.

As mudanças vêm com base na adoção do escore Prevent (sigla que vem do inglês “predicting risk of cardiovascular disease events”, na tradução para o português “predição do risco de eventos cardiovasculares”) da American Heart Association, ferramenta internacional que calcula a probabilidade de infarto, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca em dez anos. O escore incluiu a função renal e o índice de massa corporal (IMC) como fatores de risco.

“Todo o aprendizado que a gente teve na última década” também implicaram nas mudanças, segundo Saraiva, assim como “estudos mostrando que, quanto mais baixo for o colesterol, menor o risco de infarto, de AVC e de morte”.

TERAPIA COMBINADA

A diretriz passou a recomendar uma terapia combinada como primeira linha de tratamento para pacientes de alto risco. Ela associa estatinas (medicamentos redutores dos níveis de colesterol) com ezetimiba, terapias anti-PCSK9 e ácido bempedoico.

Saraiva diz que a recomendação foi adotada pois se viu que as metas não estavam sendo atingidas apenas com medicamentos isolados. “A associação conseguiu mostrar resultados melhores, não só na redução do colesterol, mas também na redução do risco cardiovascular”, diz o médico.

NOVA DOSAGEM DE RISCO

Os especialistas também passaram a recomendar que todos os adultos façam, pelo menos uma vez na vida, o exame de dosagem da lipoproteína (a), ou Lp (a), um tipo de colesterol de alto risco.

Saraiva evidencia que a dosagem não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e nem é autorizada por todos os planos de saúde. “É um exame que custa por volta de R$ 100, mas a gente quer batalhar para que a população no SUS tenha disponibilizado, porque ele é um marcador de risco”, diz o médico.

O documento recomenda como método preferencial para medir a Lp(a) um ensaio que meça o número de partículas por litro (nmol/L). O índice é considerado elevado se ficar acima de 125 nmol/L. Se a Lp(a) for medida em mg/dL, o valor limite é de 50 mg/dL.