NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Um estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) identificou cerca de cerca de US$ 3 trilhões (R$ 16 tri) em empréstimos nacionais em todo o mundo, alinhados com projetos de sustentabilidade e descarbonização.

O objetivo da instituição agora é converter esses títulos em ativos no mercado internacional, como forma de incentivar projetos nessa área.

O projeto, batizado de ReInvest+, foi lançado nesta terça-feira (23) em Nova York, junto com SB COP —braço de sustentabilidade da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a presidência da COP30, a conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas).

A iniciativa busca destravar o que foi o principal entrave de todas as últimas negociações climáticas, o financiamento.

“Até agora, pedimos aos investidores institucionais que mudassem seu apetite por risco para investir em projetos em países em desenvolvimento. Essa abordagem se mostrou cara e difícil de escalar”, afirma o presidente do BID, Ilan Goldfajn.

A ideia agora é revender esses financiamentos locais para o mercado internacional. Assim, o investidor menor, defende ele, consegue fôlego para impulsionar novos projetos, “potencialmente escalando o financiamento climático”.

Como mostrou a Folha, as últimas negociações climáticas emperraram diante da resistência de países ricos em atender a demanda de nações em desenvolvimento por uma maior quantidade de recursos investidos em soluções climáticas.

A COP29, que aconteceu em 2024 na capital do Azerbaijão, em Baku, tinha como uma de suas principais missões destravar esse debate e criar a chamada NCQG, sigla em inglês para uma nova meta global em alocação de recursos voltados para projetos ambientais.

Travado pelo mesmo dilema, a negociação chegou a um de US$ 300 bilhões (R$ 16 tri), considerado muito abaixo do necessário para combater a mudança climática.

Por isso, a COP30, que acontecerá em Belém, no Brasil, herdou a missão de criar —junto com os azeris— o que se batizou de “roadmap”: um documento que apresente caminhos para se chegar, pelo menos, à cifra de US$ 1,3 trilhões (R$ quase R$ 7 tri).

A Folha mostrou que a diplomacia brasileira busca formas de driblar o impasse geopolítico, trazendo a discussão de financiamento para outros fóruns, por exemplo o G20 ou a cúpula dos Brics.

Uma das apostas do presidente da COP30, André Corrêa do Lago, é não contar apenas com recursos de países —que é onde reside o entrave—, mas também mobilizar o capital privado para impulsionar a cifra total do financiamento climático.

Um dos principais projetos brasileiros é o Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF, na sigla em inglês).

O mecanismo, idealizado pelo Ministério da Fazenda e pelo Ministério do Meio Ambiente, pretende funcionar como um fundo de investimentos tradicional, que retorna lucro aos investidores com taxa de mercado, mas repassa um percentual dos ganhos para nações que conservem suas florestas.

O objetivo do Brasil é começar a operar o TFFF na COP30, mas para isso ele precisa conseguir mobilizar cerca de US$ 20 bilhões (R$ 106 bi) iniciais de diferentes países, para então alavancar outros R$ 100 bi (R$ 534 bi) em recursos privados.

Já o ReInvest+ funciona de forma diferente. A ideia do BID é funcionar como um intermediário entre projetos nacionais e grandes conglomerados internacionais.

A instituição já encomendou um estudo que identificou US$ 3 trilhões (R$ 16 tri) em empréstimos feitos por bancos em projetos ambientais de escopo local, em todo o mundo.

Só para América Latina e Caribe, o BID encontrou US$ 500 bi (R$ 2,6 tri) que atendem a este critério —o que significa, por exemplo, que atividades ligadas à indústria do tabaco ou dos combustíveis fósseis, por exemplo, não podem ser elegíveis.

A partir desta seleção, o banco vai converter esses empréstimos em títulos para serem vendidos no mercado internacional, com seguro político e cambial, o que aumenta seu grau de credibilidade e os faz atrativos.

A contrapartida é que o investidor original é obrigado a reinvestir os recursos obtidos também em projetos que estejam alinhados com as NDCs, as metas nacionais de descarbonização de cada país.

Na visão de integrantes do BID, um dos obstáculos para o financiamento climático era uma grande distância entre os recursos do mercado global e os projetos de impacto local.

O objetivo é, a partir desse portfólio de projetos regionais, conseguir atrair o investidor internacional para impulsionar essas iniciativas.