SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado) deflagrou a Operação Vila do Conde, nesta terça-feira (23), com objetivo de combater o tráfico internacional de drogas e a lavagem de capitais.

Ao todo, foram cumpridos 22 mandados de prisão e 40 de busca e apreensão nos estados de São Paulo, Pará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás. Em São Paulo, dos 11 locais onde foram cumpridos mandados, dois foram na escola de Samba Império de Casa Verde.

A polícia calcula que foram realizadas 16 prisões e que ao menos três pessoas estão foragidas na Europa. Foi solicitada a inclusão dos nomes deles na difusão vermelha.

O alvo principal da polícia foi Alexandre Constantino Furtado, conhecido como Teta, que é vice-presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo e presidente da escola de samba Império de Casa Verde. Ele é suspeito de ser associado da facção, ou seja, contrataria o PCC (Primeiro Comando da Capital) para realizar serviços, segundo a reportagem apurou.

De acordo com apuração, os presos usariam o serviço de logística da facção, mas não necessariamente compõe o organograma do PCC.

Procurada, a Império de Casa Verde afirmou que o “corpo jurídico da agremiação está acompanhando o desenrolar dos fatos, mas até o presente momento não há elementos concretos para qualquer declaração adicional, visto que ainda não se confirmou oficialmente o teor completo da ação ou eventuais envolvidos”.

A escola de samba ainda diz que mantém a transparência junto ao público e “respeito às instituições e à legalidade”.

A reportagem também procurou a Liga, mas não houve manifestação até a publicação deste texto.

Esta não foi a primeira prisão de Alexandre. Em 2006, ele foi preso também após uma investigação da polícia apontar o que PCC (Primeiro Comando da Capital) movimentaria cerca de R$ 500 mil por mês no Império de Casa Verde. Os responsáveis pela escola de samba, segundo autoridades, usavam esses três membros da escola para obter empréstimos financeiros de origem desconhecida -a acusação foi negada pela escola.

Na época, ele era chefe de ala e foi desligado dela. Uma reportagem da Folha de S.Paulo na época mostrou que a investigação apontava que o dinheiro movimentado pela facção criminosa era ilícito e obtido com a venda de rifas, tráfico de drogas, sequestros, extorsões, clonagens de cartões de bancos, assaltos, furtos e da mensalidade de R$ 1.050 cobrada dos filiados do PCC.

De acordo com a Polícia Federal, as investigações deste caso mais recente tiveram início após a apreensão de cocaína no Porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA), em fevereiro de 2021. Na ocasião, policiais federais apreenderam 458 quilos de cocaína, que estavam acondicionados em meio a uma carga de quartzo, cujo destino final seria o Porto de Rotterdam, na Holanda.

No ano seguinte, novas evidências em São Paulo surgiram e a polícia passou a conduzir a investigação em território paulista, segundo o delegado Alexandre Custódio, à frente da investigação. “Eles atuavam mais fortemente aqui no estado e a maior parte deles residia aqui”, afirmou o delegado.

A partir daí, a operação policial identificou os membros da organização criminosa transnacional, assim como a estrutura logística arquiteta para escoar a produção de cocaína que vinha da Bolívia para a Europa, na maioria dos casos, por contêineres. Entre os países encontrados compradores da droga foram citados Bélgica, Holanda e Espanha. A suposta participação de Furtado no esquema não foi detalhada pela polícia.

A PF ainda informa que o trabalho investigativo descobriu a logística empresarial voltada à lavagem dos ganhos ilícitos, o que envolve empresas fictícias e investimentos em segmentos formais do mercado, como restaurantes, empresas de entretenimento e prestadores de serviços diversos.

A ação contou com apoio da Polícia Militar do estado de São Paulo e da Receita Federal. A Ficco é composta pela PF, Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Secretaria de Administração Penitenciária e Secretaria Nacional de Políticas Penais.