BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm usado a proposta de anistia a condenados pelos ataques golpistas de 8 de Janeiro para desgastar a relação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com o presidente do PSD, Gilberto Kassab.

Eles querem uma posição mais firme do partido a favor desta que é a principal pauta do bolsonarismo e que também poderia livrar o ex-presidente da cadeia.

Uma parte desses aliados defende inclusive o rompimento de Tarcísio com o presidente do PSD, que é também secretário de Governo e Relações Institucionais de São Paulo —hoje o principal responsável pela articulação política do governo paulista com prefeitos e deputados estaduais.

De acordo com interlocutores do governador de São Paulo, houve uma conversa entre os dois há algumas semanas, na qual Tarcísio pediu apoio à anistia. Kassab, segundo relatos, se comprometeu a fazer o possível.

A pressão surtiu efeito. No dia 13, o presidente do PSD se manifestou publicamente a favor da anistia. Também se solidarizou com Bolsonaro.

“Kassab reafirma publicamente, mais uma vez, sua posição pública a favor de que se paute o tema e sua posição já pública de solidariedade ao ex-presidente Bolsonaro e a favor da anistia”, afirma nota divulgada.

Na prática, o PSD se divide. Na votação da urgência ao projeto de lei da anistia na Câmara, dos 45 deputados, 28 foram favoráveis, 12 contrários e 5 não votaram. O líder da bancada, Antonio Brito (BA), estava ausente da sessão. O mérito do texto ainda não foi discutido.

Já no Senado, a bancada do PSD é apontada como uma das maiores barreiras contra o avanço da anistia, além do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). A avaliação é que só 2 dos 12 senadores votariam a favor.

Um dos principais nomes do partido, o senador Otto Alencar (BA) afirma ser contra a pauta. Ele diz que a medida é inconstitucional e que, se for aprovada pela Câmara dos Deputados, deve ser obrigatoriamente avaliada pela Comissão de Constituição e Justiça, da qual é presidente.

Outro nome do grupo, o senador Rodrigo Pacheco (MG) foi um dos articuladores de um projeto alternativo para reduzir as penas de parte dos condenados e frear o pleito bolsonarista.

Senadores do PSD afirmam, sob reserva, que Kassab respeita a posição da bancada. Três integrantes do partido contam que ele nunca tratou do assunto com eles. Um dos parlamentares diz que só conhece a posição do presidente do partido por meio de declarações públicas.

Em agosto, Kassab disse que a anistia não era “nenhuma aberração” e que deveria ser debatida com cautela. Por outro lado, afirmou que a opinião dele era de que uma anistia ampla, geral e irrestrita não convinha.

Kassab é visto com desconfiança na base de Tarcísio pelo fato de o PSD integrar também o governo Lula (PT) com três ministros. O partido é conhecido pelo pragmatismo e tende a se dividir em temas ideológicos.

A queixa desses aliados do governador de São Paulo é de que a sigla não se posicionou ao lado do bolsonarismo em temas relevantes, como a CPI mista do INSS, em que foram escalados nomes da base do governo.

Apesar da pressão, políticos próximos ao governador e ao próprio Kassab reconhecem haver desgaste, mas descartam a saída dele do secretariado. Aliados do presidente do PSD também minimizam a pressão do bolsonarismo, que dizem ser recorrente, e ressaltam que um rompimento só beneficiaria Lula, porque empurraria a legenda para o petismo.

Esses políticos próximos ao governador dizem ainda entender que a natureza do PSD é menos centralizada que a de outros partidos e que não será possível ter todos os votos. O que eles esperam do dirigente é uma postura institucionalmente favorável à medida.

A avaliação de interlocutores do governador é a de que a falta de um posicionamento de Kassab a favor da anistia poderia inviabilizá-lo eleitoralmente no estado.

O objetivo do presidente do PSD é ser governador de São Paulo e, para isso, ele planeja ser o vice na chapa de reeleição de Tarcísio, com o plano de assumir em 2030. Com os sinais de que o governador será lançado ao Palácio do Planalto pelo centrão, o caminho de Kassab ao Palácio dos Bandeirantes fica ainda mais incerto.

Caso Tarcísio deixe o governo em abril para concorrer à Presidência, os nomes que disputam seu apoio para sucedê-lo são, além de Kassab, o presidente da Assembleia, André do Prado (PL), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o atual vice-governador, Felício Ramuth (PSD). Nesse cenário, Tarcísio deve migrar para o PL, e Felício pode trocar o PSD pelo Republicanos.

Kassab pode ficar sem espaço e sem apoio diante de desavenças com Bolsonaro e mandachuvas do centrão: Valdemar Costa Neto, presidente do PL, Ciro Nogueira, do PP, e Marcos Pereira, do Republicanos.

Nacionalmente, o presidente do PSD tem defendido candidaturas próprias, com os governadores do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), enquanto torce para que Tarcísio concorra à reeleição e não à Presidência.