SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta terça-feira (23), com o mercado repercutindo a ata do último encontro do Copom (Comitê de Política Monetária) e à espera de falas de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) e uma entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também estão no radar do mercado.

Às 11h33, a moeda norte-americana recuava 0,5%, a R$ 5,310. Já a Bolsa avançava 0,79%, a 146.256 pontos, perto da máxima histórica intradia de 146.398 pontos registrada na semana passada.

O documento divulgado pelo Copom nesta manhã atestou que, para o BC (Banco Central), a política monetária entrou em uma nova fase após um “firme” ciclo de elevação dos juros.

Com a taxa Selic estacionada em 15% ao ano, o maior patamar em duas décadas, o comitê pretende examinar os impactos acumulados da política de juros para avaliar se o plano de conservar a taxa no atual patamar por tempo “bastante prolongado” será suficiente para levar a inflação à meta.

O objetivo central perseguido pelo Banco Central é de 3%. No modelo de meta contínua, o alvo é considerado descumprido quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).

Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, a ata confirmou as intenções do BC em manter a taxa Selic inalterada e que o grande desafio, agora, “é ver sinais consistentes de estabilização inflacionária para que a trajetória da política monetária comece a mudar”.

“Isso tende a pressionar a taxa de câmbio para baixo, embora a ata apenas expanda o que nós já vimos no comunicado divulgado após a decisão. Ainda que parte dessa conclusão já estivesse precificada, a ata reforça que os juros ficarão em um patamar estável por bastante tempo no momento em que o Federal Reserve retoma seu ciclo de cortes”, avalia.

No mercado cambial, essa dinâmica tende a ser uma boa notícia. Isso porque a manutenção pelo Copom e o corte pelo Fed aumentam a diferença entre os juros de lá e os daqui, e, quanto maior essa diferença, mais rentável é a estratégia conhecida como “carry trade”.

Nela, pega-se dinheiro emprestado a taxas baixas, como a dos EUA, para investir em ativos com alta rentabilidade, como a renda fixa brasileira. Assim, quanto mais atrativo o carry trade, mais dólares tendem a entrar no Brasil, o que ajuda a valorizar o real.

O mercado agora olha para frente, atento a novas sinalizações sobre a política monetária dos Estados Unidos. O discurso de Jerome Powell, chefe da autoridade monetária americana, no início da tarde é, nesse sentido, o destaque da agenda do dia.

“As falas vão ajudar investidores a calibrar suas expectativas sobre a trajetória de juros nos Estados Unidos e entender qual pode ser a velocidade e a intensidade do ciclo de corte de juros proposto nesse momento”, diz Mattos.

Ao mesmo tempo, falas de autoridades nacionais também pautam as negociações. Em entrevista nesta manhã ao ICL Notícias, o ministro Fernando Haddad ponderou que os juros no Brasil não deveriam estar em 15% e que há espaços para cortes.

“Eu entendo que tem espaço para esse juro cair. Acredito que nem deveria estar em 15%. Mas enfim, está, mas tem espaço para cair”, disse, acrescentando que “boa parte do mercado financeiro” também vê espaço para queda de juros.

O ministro ainda endereçou o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para ele, a imposição de sobretaxas sobre produtos brasileiros, em especial commodities, foi um “tiro no pé”, uma vez que a medida, “impensada”, penaliza o consumidor americano ao encarecer o “café da manhã, o almoço e o jantar”.

Haddad chamou a ação americana de “ingerência indevida” e “intromissão descabida”, mas que a guerra comercial é uma oportunidade para o Brasil avançar em mudanças estruturais. “É um momento auspicioso, em que podemos fazer o que nunca tivemos coragem de enfrentar”, afirmou.

As falas do ministro antecederam o discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU, no que foi a primeira vez que o petista esteve em um mesmo evento que Donald Trump desde que a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros foi estabelecida.

Lula abriu seu discurso com uma crítica a sanções arbitrárias e disse que “não há justificativa para a agressão contra a independência do Judiciário” no Brasil, um dia depois do governo Trump ampliar sanções a autoridades brasileiras e ao entorno do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em reação à condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão.

“Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra. Existe um evidente paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia”, afirmou o petista no início de seu discurso de 18 minutos na sede das Nações Unidas.

Ele também defendeu a legitimidade do julgamento do ex-presidente e alfinetou Trump, sem citá-lo nominalmente.

“Bolsonaro teve amplo direito de defesa. Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam”, disse. Ele voltou a dizer que “nossa democracia e soberania são inegociáveis”.