NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – A União Europeia não deve apresentar sua nova NDC (a meta de descarbonização que cada país ou grupo se compromete a cumprir) em Nova York, o que frustra apelos da COP30, a conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas) que neste ano ocorre em Belém.
Quatro negociadores afirmaram à reportagem que o bloco europeu não fará a entrega nesta semana.
Assim, dois dos quatro maiores emissores de CO2 do mundo não vão entregar o documento em Nova York. Além da União Europeia, não é esperada a entrega dos Estados Unidos, que, sob Donald Trump, vão sair do Acordo de Paris, o tratado global de descarbonização que demanda a apresentação das NDCs.
Há a promessa, segundo pessoas que acompanham essa negociação, de que China e Índia anunciem suas diretrizes ainda nesta semana.
Procurada, a missão da União Europeia no Brasil afirmou que acordou, por meio de uma “declaração de intenção”, em apresentar sua NDC apenas antes da COP30.
“A declaração destaca que a UE está bem encaminhada para atingir a meta de redução de 55% estabelecida para 2030”, objetivo que foi traçado ainda em 2020.
Na próxima quarta-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera, junto com o secretário-geral da ONU, António Guterres, um evento em Nova York que busca dar impulso à entrega de NDCs. Por isso a expectativa de avanços nesta semana.
O cronograma inicial previsto era de que os países oficializassem suas metas em fevereiro deste ano, o que foi cumprido por uma parcela pequena de nações entre elas o Brasil.
Até o último domingo (20), apenas 37 de quase 200 países tinham apresentado o seu documento.
Há uma expectativa de que o evento da próxima quarta ajude a destravar esse cenário. Mas, segundo negociadores ouvidos pela reportagem, a postura da União Europeia frustra ao menos em parte esses planos.
Chamada de Climate Summit (Cúpula do Clima), a agenda com Lula e Guterres é a única que formalmente tem mandato formal de negociação dentro do âmbito da COP30, o que significa que podem haver deliberações relacionadas aos debates da conferência.
Também acontece nesta semana em Nova York a Assembleia-Geral da ONU, que tem uma série de reuniões voltadas a meio ambiente, e a Semana de Clima, que neste ano tem sua maior edição, com mais de mil eventos.
Sem a meta da UE, as expectativas recaem sobre quão ambiciosa será diretriz apresentada pelos chineses, que atualmente são os principais emissores de CO2 do mundo.
Na última grande reunião climática da ONU, em Bonn (Alemanha), os EUA nem sequer levaram uma delegação. O evento aconteceu em julho deste ano e já tratou dos textos que serão negociados na COP30.
Nos bastidores, negociadores também afirmam que veem uma mudança de postura dos países europeus desde que os Estados Unidos deixaram de participar das negociações.
Uma dessas pessoas afirma, sob reserva, que já notava uma retração na ambição europeia de forma geral nos últimos anos, mas que isso escalou após a debandada dos EUA.
As reclamações são de que a União Europeia teria assumido uma postura mais conservadora de maneira generalizada.
A falta de uma NDC para a União Europeia engessa também a atuação dos países do bloco, já que estes precisam ter suas próprias metas alinhadas com a do grupo.
Todo ano, a ONU publica o chamado relatório-síntese sobre as NDCs, que serve de diretriz para avaliar a efetividade das políticas aplicadas e o quão distante o mundo está de suas metas e de evitar que a temperatura média do globo ultrapasse o 1,5°C acima da da era pré-industrial.
Este ano os dez anos do Acordo de Paris e também o momento em que as nações deveriam atualizar, pela segunda vez, suas metas de descarbonização, desta vez atingindo um nível maior de detalhamento.
Por isso, criou-se grande expectativa dentre ambientalistas e diplomatas quanto ao relatório-síntese de 2025, por uma atualização robusta na situação mundial. Esse objetivo, no entanto, fica mais distante diante da baixa adesão atingida até aqui e sobretudo diante do pouco comprometimento de países e grupos importantes, como a União Europeia.
A UE se comprometeu apenas a apresentar sua NDC antes da COP30, o que não é considerado ambicioso por dois negociadores ouvidos pela reportagem. Um terceiro minimizou e disse não ver motivos para temer que os europeus não cumpram com a promessa.
Na carta de intenção em que anuncia a decisão, o grupo apenas diz ter um indicativo de que a próxima meta (que deve ser atingida até 3035) irá prever algo entre 66,25% e 72,5% de redução de emissões 70% é avaliado como o mínimo aceitável por ambientalistas.
O próprio comunicado da União Europeia faz questão de salientar que a intenção “não é a NDC oficial”.
O grupo também afirma que irá, no próximo dia 24, na reunião com Lula e a ONU, apresentar dados básicos sobre o andamento das negociações sobre o documento.
“Elaboramos uma Declaração de Intenção , que também permite entrar com confiança em Nova York”, disse o Comissário de Clima da UE, Wopke Hekstra, por meio de uma nota e ressaltando a possível faixa de descarbonização.
“[Isso] está claramente em conformidade com o Acordo de Paris e, na minha opinião, é muito útil para articular o caminho que a UE pretende seguir”, completou.