Da Redação
A trajetória política de Ronaldo Caiado (União Brasil) sempre foi marcada por alianças estratégicas e embates duros. Em 2018, o então senador surfou na onda do bolsonarismo e venceu com folga a disputa pelo Palácio das Esmeraldas, impulsionado pelo desgaste dos adversários Daniel Vilela (MDB) e José Eliton (PSDB). À época, Jair Bolsonaro também despontava como fenômeno eleitoral, desmontando a força histórica de MDB e PSDB em Goiás.
Passados seis anos, o cenário mudou. A relação entre Caiado e o bolsonarismo azedou e ganhou novos capítulos neste fim de semana, após o governador criticar duramente a Proposta de Emenda à Constituição nº 3/2021. A medida, apelidada pela oposição de “PEC da Blindagem” — e nas redes da militância, de “PEC da Bandidagem” — reacendeu a disputa narrativa em Brasília e abriu rachaduras em alianças políticas em Goiás.
A PEC e a reação em cadeia
O texto aprovado pelo Congresso limita o alcance de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra parlamentares, reforçando a prerrogativa do Legislativo em autorizar ou não processos criminais. Para os defensores, trata-se de garantir equilíbrio entre os poderes. Para os críticos, uma forma de blindar políticos de investigações.
Em Goiás, a deputada federal Silvye Alves (União Brasil) chegou a anunciar que pode deixar o partido em razão do apoio à proposta. A pressão virtual foi tão intensa que a sigla passou a dividir opiniões em praça pública.
Um choque inesperado
Caiado, que construiu sua carreira no alto clero do Congresso e sempre foi ouvido com atenção em Brasília, surpreendeu ao adotar os mesmos rótulos usados pela esquerda contra a PEC. A crítica direta desagradou aliados do bolsonarismo, sobretudo porque o governador vinha sendo cotado como alternativa presidencial capaz de dialogar tanto com a direita quanto com setores do centro.
A insatisfação é clara: o deputado federal Eduardo Bolsonaro e outros expoentes da base do ex-presidente interpretaram o gesto como uma afronta. Parlamentares próximos ao clã, como Gustavo Gayer (PL-GO), também devem engrossar a lista dos que enxergam em Caiado um possível adversário e não mais um aliado.
O que está em jogo
A polêmica esvaziou debates paralelos, como a CPI do INSS, e colocou no centro da arena a disputa sobre os limites do STF frente ao Legislativo. Mais do que isso: mostrou que, mesmo em um cenário de pré-campanha ainda distante, Caiado já enfrenta o dilema de se posicionar entre o bolsonarismo raiz e uma narrativa mais moderada — escolha que pode definir seus passos rumo a 2026.