Da Redação

O Brasil conseguiu reduzir em mais de 400 mil o número de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil nos últimos oito anos. Em 2016, eram 2,1 milhões; em 2024, o total chegou a 1,65 milhão — queda de 21,4%. Apesar do avanço, os dados ainda revelam desafios, como desigualdades raciais, de gênero e regionais.

As informações fazem parte da Pnad Contínua, do IBGE, divulgada nesta sexta-feira (19). O levantamento mostra que, proporcionalmente, o trabalho infantil caiu de 5,2% em 2016 para 4,3% em 2024. Ainda assim, houve uma leve alta em relação a 2023, quando a taxa havia registrado o menor patamar da série: 4,2%.

Quem são os jovens mais afetados
Mais da metade dos casos (55,5%) se concentra entre adolescentes de 16 e 17 anos, faixa em que a incidência subiu de 14,7% para 15,3% em apenas um ano. O trabalho infantil também é mais frequente entre meninos, que representam dois terços do total, e entre crianças negras: pretos e pardos somam 66,6% dos trabalhadores mirins, embora sejam 59,7% da população nessa idade.

Regionalmente, o Norte lidera com 6,2% de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, seguido pelo Nordeste (5%). O Sudeste é a única região abaixo da média nacional, com 3,9%.

Setores que mais exploram mão de obra jovem
Comércio e reparação de veículos concentram 30% do trabalho infantil, seguidos da agricultura, pecuária e pesca (19%), alojamento e alimentação (11%) e serviços domésticos (7%). A carga horária varia: enquanto 41% trabalham até 14 horas semanais, 11,6% chegam a cumprir jornadas de 40 horas ou mais.

A remuneração média dos que trabalham é de R$ 845, mas entre aqueles que enfrentam semanas de 40 horas ou mais, a renda sobe para R$ 1.259.

Impacto no estudo e no futuro
Embora a maioria continue na escola, a frequência escolar é sempre menor entre quem trabalha. Em 2024, 97,5% das crianças e adolescentes fora do mercado de trabalho estudavam, contra 88,8% dos que estavam em situação de trabalho infantil.

Entre os beneficiários do Bolsa Família, o índice de trabalho infantil é mais alto: 5,2%, equivalente a 717 mil jovens. Apesar disso, esse grupo teve uma redução mais acentuada ao longo da série histórica e apresenta maior taxa de frequência escolar em relação à média dos que trabalham.

Tendência ainda positiva
Para o IBGE, a leve alta de 2024 não significa reversão da tendência. “Foi uma variação de apenas 0,1 ponto percentual. O cenário geral é de queda”, destacou o analista Gustavo Fontes.

Ainda assim, os números mostram que, embora menos frequente, o trabalho infantil segue presente, afetando principalmente adolescentes mais velhos, negros e pobres — e mantendo viva a urgência de políticas públicas que assegurem escola, renda e proteção.