Da Redação
Nos últimos dez anos, a Medicina deixou de ser um curso para poucos e passou por uma expansão inédita: o número de calouros praticamente dobrou, saltando de 27 mil em 2015 para mais de 60 mil em 2024, segundo o Censo da Educação Superior. Mas junto com a explosão de vagas veio um dado que preocupa: a queda no desempenho dos estudantes.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a nota média dos aprovados em Medicina no Enem recuou de 684 pontos em 2015 para 633 em 2024 — uma perda de 51 pontos em menos de uma década. No mesmo período, carreiras que não tiveram aumento expressivo de ingressantes, como Direito, mantiveram a estabilidade no perfil acadêmico.
Nas universidades públicas, a disputa segue acirrada: 51 candidatos para cada vaga. Já no setor privado, a concorrência cai para 9 por vaga. Não por acaso, a maior parte da expansão aconteceu justamente nas instituições particulares, que hoje concentram 45,9 mil novos estudantes, contra 14,4 mil nas públicas.
“O perfil do aluno de Medicina mudou, e as faculdades precisam se adaptar a essa realidade. Não é por acaso: em 2015 tínhamos 26 mil ingressantes; agora são 60 mil”, explicou o diretor de Estatísticas Educacionais do Inep, Carlos Moreno.
Pressão por qualidade
A expansão acelerada levou o governo a intervir. Desde 2018, uma moratória proibiu a criação de novos cursos de Medicina, mas brechas jurídicas permitiram que a abertura continuasse em várias regiões. Em 2023, com o fim da moratória, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que novas vagas só poderiam ser autorizadas dentro das regras do programa Mais Médicos, que leva em conta a necessidade de profissionais em áreas carentes.
O MEC agora endurece o controle e aposta em uma ferramenta inédita: o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed). A primeira edição acontece em outubro, para estudantes do sexto ano. A partir de 2026, o teste também será aplicado no quarto ano do curso. Faculdades que tiverem baixo desempenho poderão enfrentar sanções severas, incluindo a suspensão do vestibular.