RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) afirma que desenvolveu um estudo que pode abrir caminho para cultivos de tomate mais resistentes a pragas e calor, além de gerar ganhos de produtividade.

O trabalho foi realizado em parceria com a UnB (Universidade de Brasília) e o Inia (Instituto Nacional de Investigação Agropecuária) do Uruguai.

A principal conclusão é a identificação, entre potenciais candidatos, do gene responsável por conferir um porte mais vertical (ereto) para as folhas do tomateiro. Trata-se de um formato que se diferencia do mais comum, no qual as folhas ficam na posição horizontal.

Segundo a Embrapa, a característica vertical é importante porque pode facilitar o controle de pragas, aumentar a tolerância ao calor e incrementar a produção por área cultivada, já que mais tomateiros desse tipo podem ser colocados em um mesmo espaço.

“Existe um inseto, a mosca-branca, uma praga do tomateiro, que fica na parte inferior das folhas. Quando as folhas estão na horizontal, o inseto fica protegido ali. Já no fenótipo ereto, a mosca não fica protegida. Vimos que reduziu muito a quantidade de insetos nas plantas”, diz à reportagem o pesquisador Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

A empresa pública afirma que o conhecimento sobre o gene que responde pelo porte ereto das folhas pode ser aplicado em culturas além do tomateiro.

“O interessante é que esse gene existe em outras plantas. Então, pensamos que será possível gerar esse fenótipo em outras espécies utilizadas na agricultura”, aponta Aragão, citando soja, feijão e algodão como possíveis exemplos.

Conforme o técnico, os responsáveis já fizeram um pedido para tornar a descoberta comercial junto à CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) —instituição do governo federal que formula, atualiza e implementa a política nacional de biossegurança de organismos geneticamente modificados.

Ainda de acordo com a Embrapa, a arquitetura das plantas impacta o manejo das culturas agrícolas.

As folhas eretas podem minimizar a incidência direta do sol e, assim, gerar menos estresse com o calor e a perda de água.

“Nas plantas convencionais de tomate, com folhas na posição horizontal, nas horas mais quentes do dia, sob o sol das 11h às 15h, ocorre um estresse oxidativo mais intenso. Quando as folhas são eretas, a planta sofre menor evapotranspiração, o que acaba gerando um tipo de proteção térmica”, diz o pesquisador Matias González Arcos, do Inia, em nota.

Os resultados da pesquisa foram publicados em artigo na revista aBIOTECH, periódico com foco na divulgação de estudos nas áreas de biotecnologia e genômica.

“A partir da observação em campo, em que vimos a manifestação dessa característica [folhas eretas], fizemos cruzamentos com plantas de folhagem normal”, aponta a pesquisadora Maria Esther Fonseca, da área de análise genômica da Embrapa Hortaliças, também em nota.

“No nosso trabalho de mapeamento genético, observamos que toda vez que uma planta apresentava o porte ereto, havia um marcador molecular de DNA específico que nos permitiu aterrissar no genoma e encontrar a exata localização do gene que controla esse fenótipo no cromossomo número 10 do tomateiro”, acrescenta.