SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com craques como Pelé, Ronaldo Fenômeno, Romário, Neymar, Marta e Formiga, o Brasil é conhecido como o país do futebol. Mas uma vitória recente em um outro esporte pode fazer com que sejamos também a nação do surfe.
No início de setembro, Yago Dora, de 29 anos, se tornou o mais novo campeão mundial brasileiro da modalidade, juntando-se a Gabriel Medina, Adriano de Souza, Italo Ferreira e Filipe Toledo.
Esses cinco surfistas ganharam oito das 11 edições da WSL (Liga Mundial de Surfe, na sigla em inglês) realizadas desde 2014. Com a vitória, Yago reforça o triunfo da “brazilian storm”, a tempestade brasileira que dominou os campeonatos na década passada. E ajuda a inspirar a meninada.
“É muito legal ver o surfe ganhando espaço e ver que as crianças podem crescer sonhando em ser surfistas”, disse ele em evento de imprensa após a vitória.
O campeão contou que, quando era pequeno, suas inspirações vinham do futebol, esporte que praticou antes de se apaixonar pelas ondas, influenciado pelo pai, Leandro Dora, professor de surfe que lhe deu aulas por anos.
Tanto era que Yago escolheu o número nove para sua camisa, uma homenagem ao ex-atacante Ronaldo. Não só isso: após o título em Fiji, o surfista cortou o cabelo no estilo Cascão, o mesmo usado pelo futebolista na final da Copa do Mundo de 2002.
“O Brasil precisa de ídolos, de pessoas que, com sua profissão, encantam. E o Yago é um exemplo maravilhoso disso”, afirma Ivan Martinho, presidente da WSL na América Latina. “Essa conquista dele fortalece a posição do esporte, e abre caminho para futuras gerações.”
O que também tem aberto caminhos e feito o surfe crescer no Brasil foi a entrada da modalidade nas Olimpíadas em 2020 e as medalhas trazidas para o país. No primeiro ano, Italo Ferreira trouxe o ouro e, quatro anos depois, vimos Gabriel Medina vir com o bronze e, Tatiana Weston-Webb, com a prata.
Segundo José Carlos Maciel Rennó, o Zecão, ex-atleta que já disputou baterias com o norte-americano Kelly Slater, um dos maiores surfistas do mundo, todos esses títulos fizeram com que desaparecesse o preconceito que existia contra o esporte. “Se antes falavam que era coisa de vagabundo, agora veem que é um esporte sério”, diz ele.
A mudança se refletiu em seu negócio, a escola Zecão, em Ubatuba, no litoral paulista. No ano passado, teve cerca de 5.000 alunos. Há dez anos, esse número não era nem a metade, segundo ele.
Cresceu também a participação feminina. Zecão conta ter cada vez mais alunas e, no surfe profissional, a tendência é a mesma. Para 2026, a WSL vai aumentar o número de surfistas mulheres de 18 para 24 no campeonato mundial -ainda longe dos 35 homens que disputaram o título neste ano, mas mais perto.
“Temos programas para estimular que mais meninas se interessem pelo esporte, tornando o espaço democrático e convidativo, deixando de lado as pessoas que não pensem assim”, afirma Ivan, da WSL.
APRENDIZADO RÁPIDO
Como diz Zecão, o surfe é para qualquer pessoa. Especialista no assunto, ele dá uma garantia a seus novos alunos: se não ficar em pé na prancha em uma hora, ele devolve o valor pago pela aula.
Além de benefícios que a prática de qualquer esporte traz, como saúde e disciplina, o surfe envolve outros aspectos. “Quando a criança começa, ela aprende a ter respeito com o próximo e com a natureza”, afirma Leco Salazar, surfista cujo pai, Picuruta Salazar, tem uma escola de surfe em Santos.
Ficou com vontade de experimentar? O campeão Yago dá um recado para os leitores da Folhinha. “No começo, pode ser frustrante, porque a gente apanha muito do mar, que não dá para controlar. Mas, se você tiver paciência e se dedicar, vai começar a se divertir e se apaixonar pelo surfe”.
*
NASCIMENTO
Não se sabe ao certo a origem do surfe, mas, segundo o COB (Comitê Olímpico do Brasil), há relatos de mais de 2.000 anos falando de polinésios pegando onda.
POR AQUI
Ainda de acordo com o COB, a primeira prancha feita no Brasil foi no final dos anos 1930. O artefato foi desenvolvido em Santos, no litoral de São Paulo, e pesava cerca de 80 quilos.
OPÇÕES
Há diversos modelos de prancha, como o pranchão ou longboard, que tem cerca de 2,75 m, e a pranchinha ou shortboard, que costuma medir aproximadamente 1,90 m.
LOTAÇÃO
Já olhou para o mar e viu um monte de surfista em um mesmo lugar? Essa concentração de esportistas se chama, no universo do surfe, “crowd” que, em português, significa multidão.
NAS ALTURAS
O recorde mundial de maior onda já surfada é do alemão Sebastian Steudtner, em Nazaré, em Portugal. Altura da bichinha: 26,21 m. Em 2024, o norte-americano Alessandro Slebir -mais conhecido como Alo- pegou uma de 32,9 m, mas o feito ainda não foi homologado.
É NOSSO
No Brasil, o recorde é do saquaremense Lucas Chumbo, que neste ano deslizou em uma onda de 14,82 m em Jaguaruna, em Santa Catarina.
*
EQUILÍBRIO
Confira abaixo escolas no litoral de São Paulo para você começar. E não é preciso levar prancha.
ZECÃO DE SURF
Se o Zecão não conseguir fazer você ficar em pé na prancha em até uma hora, ele devolve o valor pago pela aula.
– Valor: R$ 200 por hora
– @escolazecaodesurf
PICURUTA SALAZAR
Dono de 170 troféus, o surfista Picuruta tem uma escola em Santos, onde ele e outros surfistas ensinam.
– Valor: R$ 170 por hora
– @escoladesurfpicurutasalazar
GREEN WAY BRASIL
Instrutores ensinam alunos de todas as idades na praia de Juquehy, em São Sebastião.
– Valor: R$ 200 por hora
– @greenwaybrasil
SURFISTAS PARA SEMPRE
A escola de Eduardo da Silveira existe há 27 anos. Fica na praia de Pernambuco, em Guarujá.
– Valor: R$ 200 por hora
– @surfistasparasempre