BRASÍLIA,DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que as ações de Israel na Faixa de Gaza são um extermínio do povo palestino e que o país do premiê Binyamin Netanyahu tenta também acabar com as possibilidades de criação de um Estado da Palestina.

“O que esta acontecendo em Gaza não é só o extermínio do povo palestino, mas uma tentativa de aniquilamento de seu sonho de nação. Tanto Israel quanto a Palestina têm direito de existir”, afirmou Lula durante conferência sobre a Palestina e a solução de dois Estados, na ONU —evento boicotado por Israel e Estados Unidos.

A declaração de Lula, de pouco menos de cinco minutos, foi recheada de condenações das ações de Israel tanto em Gaza quanto na Cisjordânia, intercaladas a críticas à paralisia do Conselho de Segurança da ONU.

“O conflito entre Israel e Palestina é símbolo maior dos obstáculos enfrentados pelo multilateralismo. E mostra que a tirania do veto sabota a própria razão de ser da ONU, de evitar que atrocidades como as que motivaram sua fundação se repitam”, afirmou Lula.

A referência ao poder de veto é uma crítica velada aos EUA sob Donald Trump, que estão em rota de colisão com o governo Lula e vêm exercendo a prerrogativa de barrar resoluções que têm como objetivo pôr fim à guerra em Gaza —na semana passada, Washington vetou pela sexta vez um texto que pedia cessar-fogo na região.

Lula lembrou que o plano de partilha do então mandato britânico da Palestina foi adotado em sessão há 78 anos presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha. “Naquela ocasião, nasceu a perspectiva de dois Estados, mas só um se materializou.”

“Um Estado se assenta sobre três pilares: o território, a população e o governo. Todos têm sido sistematicamente solapados no caso palestino”, disse Lula. “Como falar em território diante de uma ocupação ilegal que cresce a cada novo assentamento? Como manter uma população diante da limpeza étnica a que assistimos em tempo real? E como construir um governo sem empoderar a Autoridade Palestina?”

Lula mencionou ainda um relatório recente de uma comissão de inquérito da ONU para embasar sua decisão de continuar chamando as ações de Israel em Gaza de genocídio. “Os atos terroristas cometidos pelos Hamas são inaceitáveis, e o Brasil foi enfático ao condená-los, mas o direito de defesa não autoriza a matança indiscriminada de civis”, afirmou Lula, em referência aos atentados de 7 de outubro de 2023, que serviram de estopim para a guerra atual.

O presidente brasileiro citou ainda Israel e EUA ao falar sobre a fome no território palestino conflagrado. “Meio milhão de palestinos não têm comida suficiente —mais do que a população de Miami ou de Tel Aviv”, afirmou.

Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) lamentou as falas do presidente e afirmou que ele “mais uma vez” faz “acusações mentirosas contra Israel, agora em foro internacional”. “Acusar judeus de matar mulheres e crianças deliberadamente é uma das mais antigas acusações antissemitas da história. E Lula faz isso desconsiderando os fatos e a tradição diplomática brasileira de moderação e busca do diálogo”, diz o comunicado da Conib.

Ainda segundo a nota, as “manifestações desequilibradas” de Lula “em nada contribuem para a paz”. “Se o presidente Lula está interessado no fim da guerra, deveria pedir que o Hamas devolva os reféns que mantém nas masmorras de Gaza há quase dois anos e que o grupo terrorista deponha suas armas”, afirma a confederação.

O petista deu as declarações após a fala do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que disse estar pronto para governar a Faixa de Gaza. Antes dele, o presidente francês, Emmanuel Macron, oficializou o reconhecimento do Estado da Palestina pela França —Paris preside a conferência ao lado da Arábia Saudita.

“Esse reconhecimento é uma forma de afirmar que o povo palestino não é só mais um povo”, disse Macron. “É um povo com história e dignidade, e o reconhecimento de seu Estado não subtrai nada do povo de Israel.”

A oficialização da posição de Paris ocorre um dia após decisões no mesmo sentido tomadas por Austrália, Canadá, Portugal e Reino Unido, que oficializaram o reconhecimento da Palestina neste domingo (21) e discursaram na conferência nesta segunda defendendo a decisão.

A França, além de ser agora o terceiro país do G7 —junto de Reino Unido e Canadᗠa reconhecer a Palestina, concede peso a sua mudança de posição porque é o país com a maior comunidade judaica e, ao mesmo tempo, a maior comunidade árabe na Europa.

A decisão de Paris e Londres também isola Washington no Conselho de Segurança da ONU, no qual, agora, 4 dos 5 membros permanentes reconhecem a Palestina —China e Rússia já defendiam essa posição.