SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta segunda-feira (22) que a França agora reconhece o Estado da Palestina, oficializando anúncio feito em julho de que reconheceria a Palestina durante a reunião da ONU.

Macron deu a declaração durante evento sobre o fim do conflito no Oriente Médio e a solução de dois Estados na região de Israel-Palestina. O evento é presidido pela França e pela Arábia Saudita, e não tem a presença de Israel e Estados Unidos, contrários à proposta de reconhecimento da Palestina e do estabelecimento da solução de dois Estados.

“Esse reconhecimento é uma forma de afirmar que o povo palestino não é só mais um povo”, disse Macron, sob aplausos dos presentes no salão da Assembleia-Geral das Nações Unidas. “É um povo com história e dignidade, e o reconhecimento de seu Estado não subtrai nada do povo de Israel.”

A oficialização da posição de Paris ocorre um dia após decisões no mesmo sentido tomadas por Austrália, Canadá, Portugal e Reino Unido, que oficializaram o reconhecimento da Palestina neste domingo (21).

A França, além de ser agora o terceiro país do G7 —junto de Reino Unido e Canadᗠa reconhecer a Palestina, concede peso a sua mudança de posição porque é o país com a maior comunidade judaica e, ao mesmo tempo, a maior comunidade árabe na Europa.

A decisão de Paris e Londres também isola Washington no Conselho de Segurança da ONU, no qual, agora, 4 dos 5 membros permanentes reconhecem a Palestina —China e Rússia já defendiam essa posição.

Em seu discurso, o presidente francês anunciou que seu país abrirá uma embaixada na Palestina “assim que os reféns do Hamas forem devolvidos e um cessar-fo go for assinado”.

“Depende da liderança Palestina, e do Estado palestino, dar ao seu povo, traumatizado por décadas de ocupação, a esperança de um sistema democrático”, disse Macron, que citou compromissos que o presidente da Autoridade Nacional Palestina, que tiveram a concordância de Mahmoud Abbas —cujo visto foi negado pelo governo de Donald Trump e, por isso, não estava presente.

“Estado soberano e desmilitarizado, reconhecido por Israel em uma região que finalmente verá a paz. Espero que parceiros árabes reconheçam a existência de Israel e normalizem relações assim que o Estado palestino for estabelecido”, afirmou Macron.

O argumento de Israel e de seu principal aliado, os EUA, em oposição ao reconhecimento de um Estado palestino é o de que essa posição é uma recompensa ao ataque do Hamas de 7 de Outubro de 2023, quando o grupo terrorista matou cerca de 1.200 pessoas e dar início à reação de Tel Aviv que sustenta a guerra em Gaza, prestes a completar dois anos.

O secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, rebatou em seu discurso no evento as declarações do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e de outras autoridades israelenses de que o reconhecimento é uma recompensa à facção terrorista.

“A expansão de assentamentos e o aumento de violência de colonos na Cisjordânia devem ser interrompidos. A situação é intolerável legal, moral e politicamente”, afirmou Guterres. “É preciso que se pergunte: qual é a alternativa? O cenário de um Estado só, no qual palestinos devem ser forçados a viver sob ocupação permanente? Isso não é paz nem justiça; apenas fará aumentar o isolamento de Israel. E sejamos claros: um Estado palestino é um direito, e não uma recompensa”, disse o secretário-geral.

Em declaração por vídeo, Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, defendeu que seu governo assuma controle da Faixa de Gaza após o fim da guerra.

“O Estado da Palestina é única entidade que pode, legitimamente, assumir a administração da Faixa de Gaza. O Hamas não terá qualquer papel no governo, e deve entregar suas armas à Autoridade Palestina. O que queremos é um Estado único, desarmado, com uma única lei e uma única Força Armada legítima”, disse.

“Condenamos as ações do Hamas em 7 de outubro de 2023”, afirmou Abbas. “Ao mesmo tempo, pedimos o fim dos ataque terroristas de colonos na Cisjordânia e a expansão de assentamentos, e condenamos a narrativa de autoridades israelenses de expandir suas fronteiras”, disse.

“Eu peço que Israel sente imediatamente na mesa de negociação, coloque um fim a essa matança e leve a uma paz justa e completa. Este dia é o dia do Estado da Palestina e o começo do processo de paz no Oriente Médio”, afirmou o presidente palestino.

Após fala de Macron, o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, o príncipe Faisal bin Fahran Al Saud, condenou o ataque de Israel contra o Qatar em seu discurso. O membro da família real saudita disse que a solução de dois Estados é a única que trará paz na região e que, ao enfraquecer essa possibilidade, Tel Aviv coloca em perigo a estabilidade de todo o Oriente Médio.